São quatro os principais desafios desta fase da epidemia do novo coronavírus. O primeiro é não se deixar levar pela promessa fácil todo dia anunciada do abandono da estratégia do confinamento social. Os arautos da parte de algumas autoridades sempre estão confrontando a decisão do confinamento com o desastre econômico provocado pela quarentena. Porém, eles comparam efeitos econômicos com sanitários, dizem que os efeitos sanitários não devem ser pesados e assumem o risco da mortandade.
Todos os dados disponíveis do enfrentamento são contra a decisão de suspender a quarentena – medida, não em retrocesso do Produto Interno Bruto (PIB), e, sim, em vidas humanas perdidas. Alguns até se arriscam em citar algum cientista – raro – e negacionista, como esses que negam os efeitos da ação humana no clima e suas consequências no aquecimento da Terra. Se o Brasil abandonar a estratégia do confinamento, a conta a ser feita será a de vidas ceifadas.
O segundo desafio é o de minimizar os tremendos efeitos da pobreza no impacto sanitário da epidemia. O país é muito desigual e as populações marginalizadas não têm renda para comer, não têm acesso à agua, para higiene, e não têm moradia, para segregar os portadores eventualmente diagnosticados. Aqui, de novo, é o Estado que terá de proteger a sociedade, pois a alternativa à inação será a convulsão social.
O terceiro desafio é representado pela necessidade de recriar a indústria brasileira. Boa parte da produção que utiliza mão de obra intensiva migrou para países asiáticos, com mão de obra mais barata. Com isso, hoje, temos falta desses produtos, como, por exemplo, itens usados como equipamentos de proteção individual (EPIs) e materiais usados na produção de kits de laboratório. O mundo está dependendo da China. A saída será criar empregos no Brasil e voltar a produzir estes itens aqui, para fazer frente a este momento de crise.
O quarto desafio é o de fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS). Temos que garantir um adequado financiamento do SUS e realizar os ajustes necessários para seu melhor funcionamento. Temos que salvar o SUS e permitir que ele cumpra sua mais importante missão — construir civilidade.
*Professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), ex-presidente da Anvisa e ex-secretário da Saúde da cidade de São Paulo