Brasil

Braço direito do SUS

A burocratização, natural das movimentações públicas, é barreira ante as necessidades de ações imediatas que uma emergência em saúde traz. “Hoje, nosso maior desafio no Ministério da Saúde –– e, tenho certeza, em todos os outros ministérios –– é a burocracia típica estatal. Tem que ter, a gente preza muito, mas entre aprovar uma MP (Medida Provisória) com recursos adicionais e esses recursos se transformarem, literalmente, em empenho para pagar e poder andar, isso demora”, ponderou o ministro Luiz Henrique Mandetta, durante coletiva.

Neste contexto, o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS) tem desempenhado um papel importante para dar celeridade em determinadas ações, principalmente no que pese a gastos. Financiada com recursos de isenção fiscal concedidos a hospitais filantrópicos de excelência, a iniciativa promove melhorias das condições de saúde da população brasileira. Fazem parte dessa rede os hospitais Sírio-Libanês, Albert Einstein, Oswaldo Cruz, HCor e Moinhos de Vento.

“Em um cenário de crise, as ações precisam ser diárias e rápidas. Apesar de vinculada ao governo, a verba das isenções não passa pelo processo público de liberação, dando aos hospitais filantrópicos muito mais capacidade de ver e agir”, explicou a superintendente de Responsabilidade Social no Hospital Sírio-Libanês, Vânia Bezerra.

O Proadi, segundo ela, surge como um braço direito do SUS, desempenhando um papel estratégico que permite expandir a capilaridade do sistema de maneira mais integral, igual e universal. “É uma atuação de bastidor, em que o protagonista é o SUS. Traz investimento financeiro, propondo soluções com base em organização, método e pessoas engajadas para mudar cenários de gestão, alcançar as comunidades mais vulneráveis e conseguir se preparar para enfrentar desafios”, detalhou.

Fluxo contínuo
Construída para auxiliar as tomadas de decisões da equipe técnica do Ministério da Saúde, a sala onde funciona o Gabinete de Crise contra a Covid-19 é um dos projetos consolidados pelo Sírio-Libanês. É nesse espaço, planejado dentro da sede, que as ações da Saúde são centralizadas.

A estrutura contém aproximadamente 280 indicadores, permitindo a análise de diferentes cenários com filtros e níveis de granularidade até o estabelecimento de saúde. A sala de comando está sendo usada durante a pandemia de coronavírus para acompanhar todas as ocupações de leitos de internação e UTI. Equipada com diversos recursos tecnológicos, possibilita um melhor acompanhamento dos órgãos governamentais no processo de gestão da saúde.

Outra contribuição tem sido a execução da “Lean nas Emergências”, uma filosofia de gestão voltada para melhoria de processos baseados em tempo e valor, desenhada para assegurar fluxos contínuos e eliminar desperdícios e atividades de baixo valor agregado.

Em tempo de coronavírus, as ações foram implementadas para preparar uma reação rápida à superlotação. “Estabelecemos a comunicação e ajudamos no preparo das unidades marginalizadas que, muitas vezes, o SUS necessita alcançar. Percebemos uma mudança radical dentro das unidades em pouco tempo, somente com essas organizações de fluxo”, afirmou Vânia. Com o programa, o tempo de passagem do paciente com internação reduziu em 45% e o de paciente sem internação caiu 38%. Existem, hoje, 90 hospitais participantes e 50 UPAs 24 horas (BL).

Palavra de especialista
Papel da sociedade civil
Vânia Bezerra 

Não é momento para discutir a forma com que a doença chega às comunidades, com o objetivo de achar a causa. Em meio à crise, as energias precisam estar canalizadas nas consequências e no que fazer para garantir o melhor cenário na realidade de cada comunidade. 

Além dos esforços das autoridades, a sociedade civil tem um importante papel, criando pequenas ações de solidariedade, entendendo como pode ajudar, mesmo de casa, para que o sabonete chegue até a comunidade, para que não falte alimento a uma família. Quando todo mundo tem um propósito, a gente se organiza. É hora de descobrir a humanidade e seria um desserviço trazer discussões que dividam ainda mais a sociedade.

Para depois dessa crise, vale discutir as causas e retomar a necessidade de investimento, principalmente, em educação. Eu vim de comunidade. Sei que o que vai mudar a realidade dessas pessoas é a educação. Quanto à saúde, costumo dizer que, em todo o  mundo, é um privilégio. Um país que se propõe a elaborar um Sistema Único de Saúde precisa de muita coragem e sempre será um desafio a ser incrementado.

Superintendente de Responsabilidade Social no Hospital Sírio-Libanês