O Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (Nois) — parceria entre pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto D’or — tem monitorado a curva de crescimento do novo coronavírus para auxiliar nas medidas de combate à pandemia. Na mais recente avaliação, o grupo demonstrou que, entre 16 a 20 de março, o Brasil tinha conseguido manter o aumento de casos dentro da melhor projeção possível. No cenário otimista, a previsão era de 919 casos confirmados. Na prática, o montante ficou em 904.
A estimativa, até a última sexta-feira, era de chegar até 5,7 mil casos (no pior cenário), 3,8 mil (na linha mediana) e 2,6 mil (no melhor cenário). Diferentemente da semana anterior, o Brasil alcançou uma confirmação bem mais próxima da projeção intermediária, registrando 3,4 mil infectados. No entanto, os pesquisadores acreditam que os números apresentados oficialmente não refletem a realidade do panorama atual. “Acreditamos que a subnotificação, um baixo volume de testagem e a demora nos resultados dos testes confirmatórios, possam ter afetado os valores reportados pelo Ministério da Saúde e pelas Secretarias Estaduais, de forma a estarem abaixo do que eles são na realidade”, diz a nota técnica.
Saiba Mais
Com a implementação dos testes rápidos no Brasil, que deve começar na próxima semana, o próprio ministério prevê um aumento exponencial de casos, revelando pessoas infectadas e que estejam assintomáticas ou fora dos casos graves. “Quanto mais gente testada, mais casos serão revelados. Isso ajudará a entender a dinâmica da virose, tanto para o Brasil quanto para o mundo”, explicou secretário-executivo João Gabbardo. Serão oito milhões de testes rápidos de 11 marcas liberadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Contando com a ampliação de exames laboratoriais, o país deverá realizar 22,9 milhões de testes.
Avaliação
Para a pesquisadora em biologia molecular e professora da Universidade de Brasília Andrea Maranhão, os números atuais mostram, além da subnotificação, a constatação de que o brasileiro ainda não conseguiu se alinhar às medidas preventivas. “Ainda não caiu a ficha do isolamento social na força com que deveria. E isso vai piorar, porque agora temos uma contrainformação do governo federal, indo na contramão da restrição e causando uma confusão completa para a população”, criticou.
A especialista ressaltou a importância do afastamento social como medida para conter o avanço do vírus. Afrouxar a quarentena seria um desastre nesse momento. “Jogaria o pico para as próximas semanas. O que buscamos é um achatamento dessa curva”. A estratégia do isolamento não tem como finalidade diminuir o número de infectados, mas distribuir os casos em um maior período de tempo. “O objetivo prioritário é não extrapolar o limite de leitos, equipes e equipamentos para receber os doentes. Isso impacta no número de mortes, reduzindo pela metade quando se há a oferta de atendimento hospitalar”, explicou a pesquisadora.
A perspectiva para o próximo mês é que a epidemia aumente no Brasil, uma vez que o país está no início da curva de crescimento pela qual a Itália, Reino Unido e Estados Unidos passam hoje. A equipe do Ministério da Saúde resiste em fazer comparações entre países, mas adianta que o cenário será crítico. “Vamos ter 30 dias muito difíceis, sem previsão de reduções de novos casos. Simulações são muito precoces para se fazer. Nossa intenção é fazer que a curva reduza o máximo possível”, declarou o secretário-executivo João Gabbardo.
O cenário deve ser agravado, ainda, com os maiores picos de dengue e outras síndromes respiratórias graves, decorrentes do início do período sazonal. A recomendação da pasta é para que os grupos de risco se vacinem contra a gripe, evitando a concorrência por leitos de hospitais. A população deve se atentar às regras de etiqueta respiratória, evitando, ao máximo, sair de casa.