“A gente dorme e acorda com a sensação que está em um pesadelo”, descreve André Costa Dias, médico da família e comunidade do Centro de Saúde Capoeiras, em Florianópolis. “Entendo que não temos os recursos todos, mas estamos com medo. Eu não tenho nem a máscara N95 - a mais indicada aos profissionais de saúde por evitar o contágio de gotículas. Usamos uma máscara mais simples. O Bolsonaro apareceu na coletiva com a N95, mas eu não tenho”, reclama.
André detalha a dura rotina que ele e a equipe enfrentam em comunidade situada em área de vulnerabilidade social, que contava com metade dos profissionais necessários. Com a chegada da pandemia, as coisas se complicaram. As consultas eletivas foram canceladas para dar conta dos atendimentos relacionados ao novo coronavírus.
O mais grave, segundo ele, é a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para os médicos, durante os atendimentos. Para os médicos que lidam com pacientes com suspeitas ou confirmação da Covid-19 é recomendado usar máscara, luvas, óculos de proteção e capote (avental), além de fazer a higienização das mãos com frequência, ou seja, lavar com sabão ou álcool em gel sempre, antes e depois da consulta com um paciente.
“Claro que os postos de saúde têm de estar do lado da população, mas o mínimo é ter os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para todos os profissionais de saúde”, cobra André. Segundo ele, o ideal seria usar um EPI para cada paciente que busque por atendimento relacionado ao novo coronavírus, por ser descartável. “Mas usamos o mesmo EPI o dia inteiro, porque sabemos que vai faltar”, completa.
André agradece os aplausos da população, mas aproveita para mandar um recado. “A atitude é legal para caramba. Mas sabemos que as condições nos postos de saúde vão continuar as mesmas, isso não pode ser esquecido. O mesmo pessoal que bate palmas aos profissionais de saúde tem que lembrar de cobrar por mais investimento no SUS no futuro.” (MN)