Há exatas duas semanas, quando a rápida dispersão de casos do novo coronavírus pegava de surpresa a Itália, o chef brasileiro Gustavo de Miranda de Lima, de 23 anos, que mora em Milão, contou como o clima lá naquele momento era de incerteza e medo. Mas, ontem, diante da decisão do governo de colocar em quarentena toda a região da Lombardia, onde fica a cidade, e mais 14 províncias, isolando 5 milhões de pessoas, Gustavo afirmou que já está resignado.
“Sinceramente, não estou nem preocupado de pegar a doença. O vírus está tão próximo que, se eu pegar, já aceitei. Fico em casa, me curo e vai ficar tudo bem. Gripe a gente pega todo ano, no inverno sempre fico gripado aqui, então vai ser só mais uma. Estou tentando ficar mais tranquilo”, disse.
Ele está desde quinta-feira em casa –– no que chamou de “férias forçadas” ––, porque o hotel onde trabalha está quase sem hóspedes. “Ia ficar até o outro domingo, mas agora não sei. Antes de decretarem o isolamento da Lombardia, eu cheguei a pensar em viajar. A ideia de ficar em casa, fechado, sem fazer nada, estava me enlouquecendo. Mas nem consegui. Liguei para um amigo que mora na Puglia (sul do país), mas ele não me deixou ir, não. ‘Não vem trazer o vírus para cá, não’, me disse”.
Gustavo destacou a situação meio rindo, mas disse que não sabe direito como as coisas ficarão agora. “Estamos curiosos para ver como será. Não é como foi feito na China, em que as pessoas não podiam sair de casa. Aqui a gente pode circular, só estamos isolados no estado. Acho que é uma medida mais para conscientizar a população de que temos de ficar aqui. Acho difícil controlar 100% das pessoas”, opinou.
Há duas semanas, ele contou que os supermercados estavam vazios, após um sentimento de pânico tomar a população. “Mas voltei lá uns dois dias depois e já estava bem abastecido de novo. Acho até que nunca tinha visto tanta comida lá. É meio como se eles dissessem: ‘Fiquem tranquilos, temos comida suficiente’, aí o pessoal acalmou e parou de estocar”.
Ontem, porém, a preocupação voltou. Gustavo contou que o mercado que ele costuma frequentar estava limitando o número de consumidores por vez. Gustavo ressaltou que mais preocupada está sua mãe, que mora no Itaim, em São Paulo. “Ela ficou nervosa, atacou a enxaqueca, passou mal e foi até parar no hospital outra dia. Está com mais medo do que eu mesmo”.
Ele disse que está mais receoso sobre o impacto que a epidemia pode ter sobre a economia e os empregos. Além das cidades postas em quarentena, o governo italiano tomou várias outras medidas para evitar a circulação do novo coronavírus.