O combate a qualquer tipo de preconceito se faz, também, por meio da representatividade. Por isso, a biomédica Jaqueline Goes, 30 anos, aproveita a repercussão para levantar bandeiras de gênero, de valorização à pesquisa e de cor. “Normalmente as mulheres negras têm pouca oportunidade, precisam lutar e se empenhar mais para conseguir ocupar os espaços. Sempre batalhei muito pelos meus objetivos e a exigência comigo mesma pode ter mascarado a necessidade de ter que me esforçar mais”, acredita.
Graduada pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e doutora em Patologia Humana, Jaqueline atuou anteriormente na vigilância genômica do surto de Febre Amarela no Brasil, além da cobertura de chikungunya e a atuação em um grupo de estudos que percorreu todo o Nordeste em um trailer adaptado para fazer diagnósticos e sequenciamento do Zika.
Mas nem só de pesquisa vive a baiana. De olhar cuidadoso, gosta de apreciar arte museus e exposições, e também nos espaços livres da natureza, durante uma caminhada ao parque em companhia da cadelinha de estimação. E fora do laboratório, tem uma queda pelo forró. “Gosto de dançar”, admite.
O equilíbrio entre trabalho e vida pessoal se reflete no laboratório, levando a leveza necessária para quem mexe com assuntos tão complexos. Foi Jaqueline quem coordenou — junto a Claudio Sacchi, responsável pelo Adolfo Lutz — a equipe de cientistas que publicou o sequenciamento do coronavírus, descobrindo, inclusive, sua origem geográfica.
“A importância da pesquisa está relacionada à vigilância epidemiológica: para que a gente possa compreender como o vírus está circulando na população, qual a taxa de dispersão, transmissibilidade. Principalmente entender como as munições podem interferir no processo de infecção, de patogênese desses vírus”, explica.