O Ministério da Saúde confirmou ontem seis novos casos de infecção pelo coronavírus no Brasil, dois deles em São Paulo, um no Rio de Janeiro, um no Distrito Federal e um na Bahia. Com isso, o país tem 19 casos confirmados da doença em quatro estados e no DF.
Um dos casos confirmados pelo Ministério é o de uma mulher de Brasília, de 52 anos, que testou positivo para a doença na quinta-feira, mas aguardava o resultado de contraprova. A paciente, que viajou ao Reino Unido e voltou no último dia 26, está internada em estado grave e respira com a ajuda de aparelhos. Todos os novos pacientes diagnosticados de São Paulo, Rio e DF contraíram a doença em viagens fora do país.
Segundo o Ministério da Saúde, o caso da Bahia foi uma transmissão local depois de a mulher de 46 anos, uma trabalhadora doméstica, ter contato domiciliar com a primeira infectada no estado. Em São Paulo, as infecções foram trazidas da Itália, Estados Unidos e Irã, sendo que os pacientes estão estáveis e em isolamento domiciliar. Já o número de suspeitos de terem a doença caiu de 768 para 674 pessoas –– outros 602 foram descartados.
Aeroportos
A chegada do coronavírus no Brasil tem criado novos hábitos entre passageiros e mudado a rotina de funcionários no aeroporto de Guarulhos, o maior da América do Sul, com movimentação de mais de 120 mil passageiros por dia. Viajantes, principalmente quem vai ao exterior, incorporaram novos itens antes de fechar a mala: álcool em gel e máscaras. Funcionários também usam novos equipamentos de proteção individual, como máscara e luvas.
De partida para um passeio de 15 dias a Londres, o aposentado Edvaldo de Oliveira levou 20 frascos de álcool em gel na bagagem. No setor de embarque do terminal, também usava máscara. “Não há motivo para pânico, mas é melhor prevenir”, diz. “Foi uma das primeiras coisas que coloquei na mala”.
A preocupação com a prevenção também fez com que a família do investidor Wilian Guedes fosse toda de máscara ao aeroporto. Além dele, estavam a mulher, Gisele Ferraz, a filha, Anajara, e Marina Santos. Eles foram receber Meiri McDonalds, filha de Marina, que também chegou de máscara, vinda da Flórida (EUA). “Falta ao Brasil um pouco de prevenção. A gente só se preocupa depois que os casos acontecessem”, aponta a fisioterapeuta Gisele.
A presença de profissionais com máscaras e luvas evidencia a preocupação com a doença, que já tem 19 casos confirmados no país. O uso se intensificou nas últimas duas semanas. No início de fevereiro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou orientações sobre o uso de equipamentos de proteção não só para profissionais de aeroportos, mas de portos e áreas de fronteira. “Caso haja (casos) suspeitos, a Anvisa recomenda o uso de máscara cirúrgica, avental, óculos de proteção e luvas. Profissionais que realizam inspeção de bagagens acompanhadas devem usar máscara cirúrgica e luvas”, diz a agência, que recomenda máscaras cirúrgicas a tripulantes de voos internacionais, agentes aeroportuários e funcionários de lojas duty-free.
Tripulantes
Um dos “grupos de risco” da doença são trabalhadores do setor aeroviário (os que trabalham em terra) e do setor aeronáutico (que trabalham nos voos), em contato frequente com milhares de passageiros do mundo todo. O fato de estarem na linha de frente impõe o cumprimento de determinações da Anvisa. Mas eles tentam mostrar tranquilidade.
Presidente do Sindicato dos Aeroviários de Guarulhos, Rodrigo Maciel diz acompanhar a situação dos profissionais, verificando se as medidas de proteção estão sendo cumpridas. “Orientamos as empresas, que estão oferecendo equipamentos de proteção. Também desenvolvemos um canal de denúncias para dar suporte aos funcionários que não estão recebendo luvas e máscaras”. Números do sindicato apontam mais de 20 mil trabalhadores locais, sendo 12 mil em contato com aeronaves e operações de solo.
Para alguns, a preocupação se justifica. “Quando você abre a porta do avião, não sabe exatamente o que tem lá dentro, qual grau de risco está correndo”, justifica uma gestora de uma grande companhia aérea. “É normal que haja preocupação, em maior ou menor grau”. No próximo dia 17, uma reunião entre representantes dos trabalhadores e das empresas aeroviárias vai discutir medidas para o setor, com base na progressão do número de casos no país.