A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) tirou a posse de arma e abriu investigação que pode culminar na expulsão do policial militar e youtuber Gabriel Monteiro. O soldado é acusado de "desrespeitar" o ex-comandante-geral da corporação coronel Íbis Silva Pereira. De acordo com o boletim interno da PM, Gabriel se passou por um estudante para "simular uma entrevista" com o coronel.
O episódio ao qual o boletim se refere aconteceu na porta da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e se tornou um vídeo postado no canal do YouTube de Gabriel. Nas imagens, já retiradas do ar, o PM sugeria que o coronel Íbis tenha envolvimento com traficantes do Comando Vermelho.
Após a abertura da investigação pela PMERJ, o soldado publicou outro vídeo, na quinta-feira (5/3), em que diz ter fotos do coronel Íbis dentro da Maré, "onde nenhum policial militar consegue entrar", segundo Gabriel, por ser dominado pelo Comando Vermelho.
"Ele não soube responder às minhas perguntas sobre como consegue entrar em uma área tão hostil para o policial militar. Por causa desse questionamento, no dia de hoje, eu perco o meu porte de armas, perco minhas funções externas da PM, estou largado", acusa, acrescentando que está sendo ameaçado (assista abaixo).
Pedido de ajuda
Com mais de 1 milhão de seguidores nas redes sociais, Gabriel pediu ajuda aos seguidores para subir uma hashtag em seu apoio e chamar a atenção do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel. A campanha deu certo. O termo #somostodosgabrielmonteiro ficou entre os assuntos mais comentados do Twitter na quinta-feira.
Witzel também comentou sobre o caso. A um internauta, o chefe do executivo carioca afirmou que a PMERJ tem como pilares os princípios da hierarquia e da disciplina. "Todos os soldados respondem à Comissão de Revisão Disciplinar, procedimento interno previsto para avaliar a conduta dos integrantes da Corporação", respondeu Witzel em um texto postado por sua equipe na rede social.
O soldado ganhou apoio de outros políticos. Entre eles o deputado federal por São Paulo Eduardo Bolsonaro (sem partido). O filho do presidente Jair Bolsonaro disse não conhecer Gabriel. "Mas pelo que vejo no YouTube, parece que faz um bom trabalho. Sou a favor do porte de todo cidadão de bem e a necessidade fica mais notória ainda quando se trata de um policial ameaçado de morte pelo crime organizado. Retirar seu porte é quase uma sentença morte", afirmou. Gabriel é conhecido por seus vídeos de apoio ao governo Bolsonaro.
Outro lado
Procurada pelo Correio, a PM confirmou nesta sexta-feira (6/3) que Gabriel responde a um procedimento interno previsto para avaliar a conduta dos integrantes da corporação.
"A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, como as demais instituições militares do país, tem como pilares os princípios da hierarquia e disciplina. Vale ressaltar que o rito do procedimento prevê a ampla defesa e o contraditório quanto às imputações de transgressões disciplinares nele contidas. Todas as garantias constitucionais são asseguradas aos integrantes da Corporação, oficiais ou praças", afirmou a corporação em nota.
O Correio não conseguiu contato com o coronel Íbis. À Revista Época, o ex-comandante classificou a atitude do soldado como uma transgressão "para fins de projeção pessoal" e o criticou por fazer uma acusação grave sem ter provas.
"Nesses 33 anos de Polícia Militar, eu honrei a farda e aprendi que a corporação é um importante elemento de coesão social. Um policial precisa ser, acima de tudo, alguém que cuida da lei e da sociedade, não que a transgride para fins de projeção pessoal", disse Íbis.