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Após Cid Gomes ser baleado, Força Nacional tentará pôr ordem no Ceará

Decisão de mandar a tropa federal veio depois que o senador licenciado Cid Gomes foi ferido com dois tiros, ao tentar desfazer manifestação de PMs, jogando retroescavadeira contra grevistas

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, autorizou na noite dessa quarta-feira (19/2), o envio da Força Nacional para o Ceará “a fim de proteger a população cearense, em razão de movimento paredista por parte das polícias estaduais do Ceará”. A decisão foi tomada horas depois de o senador licenciado Cid Gomes (PDT-CE) ter sido atingido com dois tiros, ao tentar debelar uma manifestação de policiais militares em Sobral, arremessando contra ela uma retorescavadeira.

O envio da tropa será feito nesta quinta-feira (20/2) e permanecerá no Ceará por 30 dias, até 19 de março, conforme portaria assinada por Moro. “A operação terá o apoio logístico do órgão demandante, que deverá dispor da infraestrutura necessária à Força Nacional de Segurança Pública”, salienta o texto.

Cid foi atingido por dois tiros de munição .40, que acertaram-lhe a clavícula e o pulmão esquerdo. Ferido, o parlamentar foi levado para o Hospital do Coração de Sobral, onde passou por cirurgia. Segundo o irmão, o ex-candidato à Presidência Ciro Gomes, Cid não corre risco de morte e nenhum órgão vital foi atingido.

“Novos exames estão sendo feitos, mas a palavra aos familiares e amigos é de que Cid não corre risco de morte. Espero serenamente, embora cheio de revolta, que as autoridades responsáveis apresentem prontamente os marginais que tentaram este homicídio bárbaro às penas da lei", disse pelo Twitter. Segundo boletim médico divulgado pouco depois da intervenção, o senador estava lúcido e respirando sem ajuda de aparelhos.

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A crise envolvendo policiais militares, bombeiros e o governo do Ceará começou em dezembro do ano passado, com reivindicações de aumento de salário. Mas somente neste mês, o governador Camilo Santana (PT) enviou à Assembleia Legislativa uma proposta de reajuste que não agradou à categoria, apesar de contar com o apoio de entidades de classe. Alguns grupos se revoltaram e tomaram os quartéis, utilizando próprias famílias como escudo. Outros saíram nas ruas de Sobral determinando que o comércio fechasse as portas, inclusive usando carros oficiais.  

Descontrole

Momentos antes de assumir o controle da retroescavadeira e arremessar, Cid criticou os manifestantes, que bloqueavam o centro de Sobral. E deu um prazo de cinco minutos para que a barreira fosse desfeita. O ultimato, em vez de amenizar, piorou a situação.

Em seguida, tomou o controle da máquina e a jogou contra um gradil. Foi quando se ouviram os tiros, que o acertaram – pedras também estilhaçaram os vidros da cabine da retroescavadeira. Cid foi retirado do local com a camisa apresentando uma grande mancha de sangue entre o ombro e o coração e socorrido.

Parlamentares usaram as redes sociais para manifestar apoio a Cid. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) afirmou ter acionado o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o governador do Ceará “para obter informações e garantir a segurança do parlamentar”. A deputada distrital Jandira Fedhali (PCdoB-RJ) disse que o colega fazia um enfrentamento enquanto autoridade e definiu a greve como um “motim, toque de recolher, ‘milicianos’. Muito grave”.

O governador Camilo Santana se justificou sobre a revolta dos policiais: “Reforço que já havia solicitado formalmente o apoio de tropas federais para o Ceará aos ministros Luiz Eduardo Ramos e Sergio Moro, para uma ação enérgica contra essas pessoas que têm agido com o criminosos”. Foi atendido ontem à noite.

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) se manifestou contrariamente à atitude de Cid: “É inacreditável que um senador da República lance mão de uma atitude insensata como essa, expondo militares e familiares a um risco desnecessário em um momento já delicado”.

"Espero serenamente, embora cheio de revolta, que as autoridades responsáveis apresentem prontamente os marginais que tentaram este homicídio bárbaro às penas da lei"

Ciro Gomes, irmão de Cid, cobrando do governador Camilo Santana que identifique os autores dos tiros