Integrante do Laboratório de Gripe da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, a epidemiologista Emily Martin acredita que ainda há chance de a atual epidemia do novo coronavÃrus ficar restrita à China e não se espalhar pelo mundo.
Embora afirme que a quarentena é uma medida "controversa", ela diz que o isolamento das pessoas pode ter efeito positivo na contenção do vÃrus. Por isso, apoia a retirada de cidadãos de Wuhan, epicentro da epidemia. "Vamos saber quão rápido o vÃrus se dissemina nas próximas semanas", disse ao jornal O Estado de São Paulo.
A taxa de letalidade do novo coronavÃrus é de aproximadamente 2%, bem mais baixa do que a da SÃndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), que era de 10%, e da SÃndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers), que era de mais de 30%. Por que, então, devemos nos preocupar?
Nos primeiros dias de uma epidemia, é muito difÃcil saber o quanto o novo vÃrus se espalhará e qual será sua verdadeira taxa de fatalidade. E uma taxa de letalidade baixa pode causar muitas mortes. Um exemplo disso é a Influenza, que tem taxa de letalidade muito baixa, mas se espalha muito.
Por que vemos o surgimento de tantos novos coronavÃrus?
A coronavÃrus é uma famÃlia muito antiga de vÃrus. Essa famÃlia inclui quatro que causam resfriados em todo o mundo e infectam as pessoas regularmente, a cada ano. Os coronavÃrus são muito comuns em animais. Por isso, um novo vÃrus tem muitas oportunidades de sofrer uma mutação e se disseminar entre humanos, como aconteceu com a Sars, a Mers e, agora, com esse novo vÃrus.
Muito paÃses, o Brasil entre eles, estão tirando seus cidadãos de Wuhan. A senhora acha que essa é uma medida necessária?
O sistema médico de Wuhan está sob grande pressão. As regras da quarentena tornam muito difÃcil a circulação diária. E agora, que muitos voos foram suspensos, a evacuação é a única forma de ajudar as pessoas a voltarem para casa.
Muitos paÃses, como a própria China e o Brasil, estão adotando uma medida de saúde pública das mais antigas, a quarentena, para tentar impedir a disseminação do vÃrus. É a melhor maneira de deter o vÃrus?
Infelizmente, não há tratamento ou vacina para esse vÃrus. Isso significa que a única maneira de reduzir a transmissão do vÃrus é pelo distanciamento social (fechando escolas e lugares públicos) ou a quarentena. A quarentena é controversa, mas é possÃvel que essas medidas detenham ou, pelo menos, reduzam a disseminação do vÃrus.
Ainda assim, o vÃrus vem se disseminando a uma velocidade alta. Por quê?
Ainda é cedo para dizer qual é a velocidade de disseminação. Nos primeiros dias de uma epidemia, apenas os casos mais graves são identificados, e testes de diagnóstico nunca conseguem acompanhar totalmente o desenvolvimento dos casos. Vamos saber quão rápido o vÃrus se dissemina nas próximas semanas, à medida que vejamos se há novos casos entre pessoas que viajaram para outros paÃses.
A senhora acredita que o mundo enfrentará uma pandemia?
Ainda é possÃvel que essa epidemia tenha uma disseminação limitada e cause poucas mortes fora da China, se as atuais estratégias de contenção forem bem-sucedidas. No entanto, quanto mais o tempo passa, é cada vez mais provável começarmos a ver a transmissão do vÃrus pelo mundo.
Que lição podemos tirar dessa epidemia?
Provavelmente vamos aprender muito sobre os coronavÃrus nos próximos meses e anos. Neste momento, chama a atenção para a importância dos sistemas de saúde pública, da detecção precoce do vÃrus e dos infectados.
Lavar as mãos ainda é a melhor forma de nos protegermos?
Recomendo seguir as orientações usuais para proteção contra infecções - lavar as mãos, evitar o contato muito próximo com pessoas doentes, ficar em casa se estiver doente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.