Apesar dos erros no gabarito das provas e das severas críticas de vários setores, inclusive do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o ministro da Educação, Abraham Weintraub, classificou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2019 como o “melhor de todos os tempos”. Atendendo a convite dos senadores para explicar a sequência de problemas causados aos estudantes, ele diminuiu o impacto dos equívocos e ainda atribuiu a militantes parte da crise.
Weintraub disse que, apesar dos erros, surgiram muitas notícias falsas sobre o Enem e que tentaria quebrar a “chuva de fake news” que se abateu sobre o Ministério da Educação (MEC). Segundo o ministro, o exame não prejudicou ninguém, se comparado com os anteriores. “Esse Enem foi o que teve o menor índice de problemas e de menor impacto”, reforçou, para acrescentar:
“Eu não prometi que seria, mas foi o melhor Enem de todos os tempos. Estou trazendo números e peço que tragam outro que tenha sido melhor. Não estou falando que não houve erro nenhum, que não há nada para melhorar, que foi perfeito, mas tragam outro e falem que foi melhor”, desafiou.
Weintraub apresentou uma linha do tempo, na qual listou os exames dos anos anteriores e os problemas encontrados em cada um. “Sempre existiu algum problema em provas passadas. Desta vez foi o Enem em que não houve problema na estrutura ou que tenha prejudicado o resultado de ninguém, ao contrário do que aconteceu no passado. Não houve fraude, não houve furto de prova, não houve vazamento de questão, não houve esquema com gráfica”, completou.
Ao explicar como o MEC enfrentou o problema, identificado inicialmente pelas reclamações nas redes sociais, Weintraub disse que o ministério detectou três grupos entre as pessoas que protestavam. “Nesse monte de reclamações que veio da internet, pelos sistemas, nós detectamos três grupos: militantes, que se passavam por alunos e entravam colocando o terror nas redes; pessoas que não estavam entendendo o processo, a dinâmica; e o último grupo, que é o de um aluno que foi mal, chega em casa e diz que a culpa é do MEC, e os pais acionam o ministério”, explicou.
Os esclarecimentos, porém, não convenceram todos. Para Randolfe Rodrigues (Rede-AP), um dos autores do requerimento para ouvir o ministro, Weintraub “não trata a administração pública com critério de impessoalidade” e “ataca as posições políticas” de quem o critica. “Ele acusa os outros da prática que faz, do comportamento que ele tem”, reagiu. O senador defendeu o impeachment do ministro, protocolado no Supremo Tribunal Federal — que o denuncia pelos erros na correção do Enem, quebras de decoro e do princípio da impessoalidade. Eliziane Gama (Cidadania-MA) acusou o ministro de perder tempo com polêmicas em vez de focar na gestão da educação. E para o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), Weintraub joga uma cortina de fumaça ideológica que atrapalha o diálogo.“A questão ideológica tem sua relevância, mas que está atrapalhando demais o diálogo construtivo, que é essencial para o Brasil. Interessam para as franjas radicais da internet as ‘mitadas’, as frases bruscas, as respostas grosseiras, mas não para construir resultado”, salientou.
Outro tema discutido durante a audiência foi o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Weintraub se declarou a favor do dispositivo, mas disse que é preciso ter critérios técnicos. “O Fundeb é muito importante. Eu sou a favor de aumentar os recursos desde que tenham critérios técnicos”, pontuou.
O ministro também afirmou que o Ministério da Educação enviará um novo projeto para debater o tema. “Para melhorar o diálogo, nós vamos enviar agora um projeto nosso, porque eu tenho receio de que a proposta não avance como gostaríamos. Estamos enviando uma PEC também do governo sobre o novo Fundeb”.
No momento em que participava da audiência, Weintraub foi um dos assuntos mais debatidos no Twitter. Duas hashtags com o nome do ministro, #ForaWeintraub e #JuntosComWeintraub, estavam entre os 10 assuntos do momento no microblog. O fim da audiência foi marcado por protestos de estudantes e entidades que os representam. O ministro não falou com a imprensa ao deixar o Senado. Foi a 9ª vez que ele foi ao Congresso.