Correio Braziliense
postado em 10/02/2020 10:33
A cidade de São Paulo viveu um dia de transtorno e perigo nesta segunda-feira (10/2) devido a fortes chuvas que caíram na noite de domingo. Foram registrados alagamentos, deslizamentos e quedas de árvores, fazendo com que motoristas ficassem presos na rua e muitos deixassem de ir ao trabalho.
Foi o maior volume registrado para o mês de fevereiro em 37 anos, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). O nível de água atingiu cerca de 100mm em três horas, e os rios Pinheiros e Tietê transbordaram, fazendo com que trechos de vias importantes ficassem intransitáveis. A intensidade da chuva só deve diminuir a partir de quarta-feira (12/2), e as autoridades orientam a população a não sair de casa em caso de temporal.
O Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) chegou a registrar o total 131 pontos de alagamentos na capital e região metropolitana de São Paulo. Até as 18h o Corpo de Bombeiros da PMESP recebeu mais de 7.650 mil chamados, destes, 978 chamados por alagamentos, 169 por desabamentos/desmoronamentos e 195 ocorrências de queda de árvores.
Uma pessoa ficou ferida num desabamento em Pirapora de Bom Jesus. As chuvas que chegaram ao interior paulista deixaram dois desaparecidos, mas até o momento não houve o registro de nenhuma vítima fatal. Mais cedo, alguns véiculos noticiaram que um corpo havia sido encontrado, mas não há confirmação de que a morte se deu por causa da chuva.
Transporte público
A Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) começou o dia ontem com operação parcial em algumas linhas, que ao longo do dia voltaram a transitar normalmente. Ao menos 115 ônibus urbanos deixaram de circular na cidade, segundo a prefeitura. Diversos locais suspenderam o expediente de trabalho, 43 escolas municipais tiveram as aulas canceladas e outras 41 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) deixaram de funcionar em virtude de alagamentos. O rodízio de carros permanecerá suspenso nesta terça-feira pela manhã.
A analista técnica de produção Mariana Ventura, 33 anos, conseguiu chegar ao trabalho no Ipiranga, mas se surpreendeu ao ver os estragos causados pelo temporal. "A própria empresa, que fica numa área mais plana, teve pontos internos de alagamento e algumas perdas. Hoje tivemos uma média de 30% de faltas e atrasos devidos à falta de mobilidade e estamos em estado de alerta. No ano passado tivemos uma perda milionária por causa de uma chuva e esse ano estamos tentando conter com comportas as áreas com maiores riscos”, conta.
Segundo ela, os ventos fortes têm causado mais estragos que a chuva. Nos arredores da empresa, aconteceram acidentes rodoviários e diversas árvores foram derrubadas, descreveu.
Apesar do mal tempo, os aeroportos permaneceram abertos, mas registraram atrasos. Passageiros de voos que saíam dos aeroportos de Congonhas e Guarulhos e não conseguiram chegar a tempo poderão pedir reembolso ou remarcar seus voos sem custo, segundo as companhias aéreas Azul e Latam. Já a Gol informou que está remarcando bilhetes sem custo, e que os passageiros poderão solicitar reembolso com crédito integral das passagens para usar em futuros voos.
Prefeito culpa excesso de chuvas
O prefeito da capital paulista, Bruno Covas, afirmou que os alagamentos se devem ao volume excessivo de água. "Desde as 3h, em alguns pontos da cidade, choveu metade do que era previsto para o mês de fevereiro, o que levou ao transbordamento dos rios Tietê e Pinheiros e prejudicou a fluidez das águas da chuva, alagando várias vias da capital paulista. Para se ter uma ideia, dos 51 pontos de alagamento na cidade neste momento, 40 são nas marginais Tietê e Pinheiros”, argumentou.
Ao lado do Comitê de crise, Covas negou que a prefeitura tenha deixado de fazer o trabalho de prevenção de enchentes e declarou que todos os piscinões da cidade estão em perfeito estado de funcionamento. E prometeu que medidas estão sendo tomadas para abrigar os que ficaram desabrigados para que a cidade possa voltar a trabalhar o mais rápido possível.
O prefeito também declarou que os moradores da cidade que se sentirem prejudicados pelos alagamentos podem pedir ressarcimento de impostos nas Subprefeituras. Os valores, segundo ele, serão ressarcidos no IPTU de 2021. “Já está previsto em lei essa isenção. A população que se sentir prejudicada pode procurar uma subprefeitura amanhã e solicitar a isenção para o IPTU do ano que vem. Já tivemos isso na região do Ipiranga no ano passado”, acrescentou.
Pelas redes sociais o Governador, João Doria, afirmou estar acompanhando a situação. “A Defesa Civil do Estado está mobilizada junto com a Defesa Civil dos municípios, especialmente São Bernardo, São Caetano e Santo André. Igualmente o setor de transportes, por meio do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e das concessionárias, com atenção redobrada nas rodovias para evitar o trânsito onde há perigo de desmoronamento. Atenção máxima em todo o estado de São Paulo”, disse.
Doria está em viagem a Dubai. O Governador em exercício, Rodrigo Garcia, esteve no Núcleo de Gerenciamento de Emergência da Defesa Civil do Estado para acompanhar o monitoramento do órgão, que dispara alerta à população para áreas de risco. “Estamos atentos desde as chuvas de sábado, que atingem a Grande São Paulo, e apoiando as famílias vítimas das enchentes. Hoje, nas primeiras horas, tomamos as medidas em conjunto com a prefeitura para tirar as pessoas das áreas de alagamentos na capital”, afirmou Garcia.
Em outros estados
Além dos estragos registrados em São Paulo, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) prevê um alto risco de inundações e deslizamentos de terra na região centro-sul de Minas Gerais, que já sofreu com os temporais no último mês, e nas regiões serrana e metropolitana do Rio de Janeiro.
No leste de Santa Catarina e do Paraná, há risco moderado de deslizamentos. Segundo a porta-voz do órgão da estrutura do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), estão sendo enviados alertas para as unidades de Defesa Civil dos estados e municípios dessas regiões.
*Estagiária sob supervisão de Humberto Rezende
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