Minas Gerais acendeu o primeiro alerta no Brasil para uma doença que já matou 17 pessoas na China e preocupa a Organização Mundial de Saúde (OMS). A Secretaria de Estado de Saúde (SES) investiga um caso suspeito em Belo Horizonte do novo coronavírus (2019-nCoV), que começou a circular no fim do ano passado e se espalha rapidamente pelo mundo. Trata-se de uma brasileira, de 35 anos, internada no Hospital Eduardo de Menezes, na capital mineira.
Ela estava em Xangai, centro financeiro chinês, e desembarcou no último sábado em BH. Os exames para confirmar ou descartar a doença serão analisados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, pois necessitam de kit específico para identificar o novo micro-organismo. Ainda não há data para divulgação do resultado.
Sem sinais de gravidade e com quadro clínico estável, a paciente em BH deu entrada na terça-feira na Unidade de Pronto-Atendimento Centro Sul, mas foi transferida para o Hospital Eduardo de Menezes, referência para o atendimento de doenças infecciosas. A unidade conta com isolamento em área específica, necessária para a redução de risco de transmissão. Na forma mais leve, o 2019-nCoV se assemelha a um resfriado e, nos quadros mais graves, leva à pneumonia, podendo evoluir para morte.
Apesar da notificação e das medidas preventivas adotadas pela SES, que emitiu alerta da Organização Panamericana de Saúde (OPS) às unidades regionais do estado, o Ministério da Saúde não considera o caso como suspeito da pneumonia indeterminada ligada à China. De acordo com o órgão federal, a paciente não se enquadra na definição de caso suspeito da OMS. Isso porque em Xangai, onde esteve, não há, até o momento, transmissão ativa do vírus. A mulher também não teve contato com pessoa com sintomas aparentes.
“De acordo com a definição atual da OMS, só há transmissão ativa do vírus na província de Wuhan”, informa, em nota. A pasta também informou que, desde o alerta da OMS, está monitoramento portos, aeroportos e fronteiras. A OMS monitora a doença no mundo e, em comunicado de emergência, informou que a enfermidade preocupa porque “quando um vírus é novo, não se sabe como afeta a população”.
De acordo com nota da Secretaria de Saúde de Minas emitida depois da manifestação do Ministério, o caso será elucidado por meio dos exames de amostras colhidas da paciente que serão realizados pela Fiocruz.
Segundo o último boletim da OMS sobre o 2019-nCoV, há um caso confirmado da doença em Xangai. A organização mundial indica 282 confirmações da enfermidade no mundo, sendo 60 em Wuhan, na província de Hubei. Agências internacionais de notícias apontam que o novo vírus já contaminou 444 pacientes.
Alerta internacional
A SES informou que, como a paciente esteve na China, primeiro local onde o novo vírus apareceu, o caso foi notificado. “Tendo em vista o contexto epidemiológico atual do país onde a paciente esteve, foi considerada a hipótese de doença causada pelo novo coronavírus, que é micro-organismo de alerta sanitário internacional, considerando o potencial pandêmico com alto risco à vida e impacto assistencial”, informa a nota da secretaria.
Se confirmado, o caso em Belo Horizonte seria o segundo no continente americano, já que há uma notificação nos Estados Unidos. Notificado em 31 de dezembro, o novo micro-organismo em circulação é uma mutação da família coronavírus, conhecida desde os anos 1960 por provocar infecções em humanos e animais. É causa bastante comum de infecções respiratórias em crianças.
Mas, como se trata de um vírus novo, o tratamento e a gravidade são desconhecidos. “Isso gera mais atenção. Será mais grave? Será que pode ter mais problemas que os outros? Tudo está sendo perguntado. Também não existe um antiviral nem uma vacina”, afirma o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estêvão Urbano. Ele acredita que há uma “chance razoável” de o caso brasileiro ser descartado como suspeito, após exames. “É melhor pecar pelo excesso”, observa.
A professora de doenças infecciosas da Faculdade de Saúde e Ecologia Humana (Faseh) Tania Marcial ressalta que o coronavírus já causou epidemias graves em 2002 e, mais recentemente, no Oriente Médio. O vírus foi encontrado em camelos, gatos e morcegos. Nessa nova versão, um mercado que vendia animais marinhos é considerado como o ponto zero da dispersão do 2019-nCoV.
Cuidados
Tania destaca a evolução para pneumonia grave nos casos envolvendo o novo coronavírus. É preciso atenção para quadros que associem dor no peito, dificuldade para respirar e viagem recente a país com transmissão ativa do micro-organismo.
“O período de incubação é de dois a 14 dias. Não se sabe o mecanismo exato de transmissão porque é um vírus novo”, explica Tania. Considerando os outros coronavírus, a médica afima que a provável contaminação é por gotículas de saliva e contato próximo, no máximo, de dois metros de distância.
Por isso, a recomendação é ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência e tossir com a mão em frente à boca. Na China, muita gente tem se protegido usando máscaras. O Ministério da Saúde também recomenda evitar contato próximo com animais selvagens ou que estejam doentes em fazendas ou criações.
Referência em Minas
Localizado no Bairro Bonsucesso, na Região do Barreiro, na capital mineira, o Hospital Eduardo de Menezes é referência no estado em tratamento de doenças infectocontagiosas. A instituição pertence à Rede Fundação Hospital do Estado de Minas Gerais (Fhemig). Inaugurado em 1954 como Sanatório do Estado de Minas Gerais, o hospital trocou de nome na década de 1980.
Naquele período, oferecia atendimento em clínica médica e tisiopneumologia, mas no início da epidemia de Aids, abriu leitos para pacientes portadores do vírus HIV. Logo se tornou referência para essa e outras doenças infectocontagiosas. Seu ambulatório atende cerca de 500 pacientes por mês.