Um acordo costurado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com a bancada da bala e a bancada negra, permitiu que o cartaz arrancado e rasgado pelo deputado Coronel Tadeu (PSL-SP), terça-feira, de uma exposição sobre racismo na Câmara, foi recolocada no lugar. A imagem foi remendada com pregos e um aviso foi exposto ao lado. ;A bancada negra sabe que essa charge não representa toda a corporação e respeita os policiais que não corroboram para essas estatísticas e trabalham em prol do povo brasileiro;, diz.
A placa traz uma charge do cartunista Carlos Latuff, em que aparece um policial com uma arma fumegante na mão, e um rapaz negro estendido no chão, algemado e com a camisa do Brasil. No cartaz, lê-se ;o genocídio da população negra;. Na reunião com Rodrigo Maia (DEM-RJ), deputados da bancada da bala afirmaram que a charge é uma agressão à PM e ameaçaram ir à Justiça caso voltasse à exposição ; alguns, mais exaltados, admitiram a possibilidade de novamente retirá-la. Porém, com o acordo, os ânimos a princípio se acalmaram.
Na terça-feira, na Mesa e sentado ao lado de Tadeu, Maia disse que o ato era ;muito grave;. ;Hoje é um dia em que nós deveríamos estar defendendo a inclusão dos negros na política, em igualdade e oportunidade, e não agredindo cartaz que pode, inclusive, ser injusto com parte da polícia, mas isso nós deveríamos ter resolvido com diálogo, e não com agressão.;
Representações
Horas antes, o PT protocolou, na Secretaria-Geral da Mesa, pedido para que o Conselho de Ética instaure um processo por quebra de decoro parlamentar contra Tadeu. O Regimento Interno da Câmara prevê, para casos assim, punições que vão desde censura à cassação do mandato do parlamentar.
A representação define o ato de Tadeu como uma ;manifestação racista de ódio; e diz que ;a violência cometida contra a exposição é um símbolo da violência contra a população negra;. E traz ainda fotos do ataque do deputado e de quando recebeu, no plenário da Câmara, os cumprimentos do deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) ; que ficou conhecido por ter quebrado uma placa em homenagem à vereadora Marielle Franco, do PSol, assassinada a tiros em 14 de março do ano passado.
Em outra representação, 14 parlamentares da oposição recorreram ao procurador-geral da República, Augusto Aras, solicitando a abertura de inquérito civil e criminal contra Tadeu e Silveira. No documento, afirmam que a atitude do Coronel ;não condiz com a postura esperada de qualquer cidadão, muito menos um parlamentar eleito;. Os deputados também destacam o discurso de Silveira, no plenário da Câmara, em apoio ao vandalismo do colega.
Limpando a imagem
Em seu perfil no Twitter, Tadeu procurou mostrar que não é racista. Em um dos posts, publicou o vídeo de uma entrevista que concedeu ao canal do youtuber Hicaro Teixeira, um jovem negro que na gravação diz que a charge destruída pelo deputado ofende a polícia. Já Tadeu fez um discurso contra o preconceito racial.
;Hoje é Dia da Consciência Negra, um dia que eu aprovo, eu apoio e eu sou um ferrenho combatente do racismo. Acabei de escrever no meu Twitter ;say no racism;, para que o mundo saiba que eu sou contra o racismo de todas as formas;, escreveu.
Tadeu elogiou a exposição, que considerou ;muito bonita;, mas disse que a charge estava fora do contexto. ;Aquilo sim era um racismo contra os policiais militares.;
- Três perguntas para Coronel Tadeu (PSL-SP)
A oposição entrou com representações contra o senhor, no Conselho de Ética e na Procuradoria-Geral da República. O senhor teme perder o mandato?
O direito não socorre os que dormem. Se eles acham que esse é o caminho a seguir, que sigam. Eu ainda não fui notificado de nada. Se for, darei minhas explicações.
Se o senhor pudesse voltar no tempo, faria tudo de novo?
Claro que sim. Eu sempre vou combater essa demagogia que a esquerda planta para denegrir a Polícia Militar, uma instituição que salvou 10 mil vidas só neste ano. É muita demagogia para uma questão óbvia, pura matemática: se a maioria da população do Brasil é negra, é óbvio que vão morrer mais negros. Por que não morrem negros na Alamanha, na Finlândia? Porque lá praticamente não tem negros.
Mas Coronel, a questão não é óbvia. Sua equação não fecha: pesquisas mostram que os negros correm quase três vezes mais risco de serem assassinados do que os brancos no Brasil. E o IBGE diz que 56,10% das pessoas se declaram negras no país.
Eu prefiro não polemizar com o senhor. A maioria da população é negra, e se tiver que morrer mais por ser maioria, assim será. A sua pergunta é muito sem sentido.