Jornal Correio Braziliense

Brasil

Raça ainda difere salários

Levantamento do IBGE mostra que população branca ganhou 74% a mais, em média, do que a população preta ou parda. Maior diferença foi notada entre os trabalhadores com nível superior completo


A população branca ganhou, em média, 73,9% a mais do que a população preta ou parda, mesmo na remuneração por horas trabalhadas. O rendimento-hora da população branca foi de R$ 17,00; 45% a mais que a da população preta ou parda, que tinha um rendimento hora de R$10,10. A maior diferença nessa remuneração por hora esteve entre os trabalhadores com nível superior completo: R$ 32,80 para brancos e R$ 22,70 para pretos ou pardos, segundo dados da Síntese de Indicadores Sociais 2019, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O levantamento mostra também que a taxa de desocupação da população preta ou parda foi de 14,1%, contra 9,5% para a população branca. As pessoas pretas ou pardas representaram, em 2018, 53,7% dos ocupados, mas 66% dos subocupados por insuficiência de horas.

Além disso, segundo a Síntese, entre os trabalhadores brancos, 34,6% tiveram trabalho informal, enquanto entre os trabalhadores pretos ou pardos 47,3% estiveram na informalidade. A presença dos pretos ou pardos foi mais acentuada em atividades com os menores rendimentos: Agropecuária (60,8%), Construção (62,6%) e Serviços domésticos (65,1%). Já as pessoas de cor ou raça branca predominam nos grupos mais bem remunerados, como Informações ou Finanças.

Os 10% da população que ganham mais recebiam 13 vezes a renda dos 40% da população que ganham menos. As unidades da Federação com as maiores diferenças foram Piauí (acima de 18 vezes), Paraíba e Sergipe (em torno de 16 vezes) e as menores estavam em Santa Catarina, Goiás, Alagoas e Mato Grosso (todas abaixo de 10 vezes), segundo o IBGE.

O professor e especialista em desemprego e mercado de trabalho do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Alberto Ramos diz que esses fatores são estruturais no Brasil e que não variam conforme a melhora da economia. ;A taxa do desemprego do negro é sempre mais alta do que o branco por causa de uma estrutura econômica de discriminação racial. Nos períodos de recessão econômica, as desigualdades se aprofundam. Isso afeta os mais vulneráveis.;

Carlos Alberto acredita que a mudança a curto prazo é inviável, e considera que políticas públicas que facilitem o acesso à educação para as pessoas das periferias poderiam, a longo prazo, melhorar esses quadros de desigualdades de renda sobre a raça e gênero. Ele defende uma legislação que crie a obrigação da igualdade salarial nas empresas. ;São extremamente necessárias as legislações que punam as diferenças salariais por critérios assim;.

* Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi