Jornal Correio Braziliense

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Bala é de fuzil, mas de quem?

Laudo não determina arma do disparo, se da polícia ou de bandido. Estado do projétil impede identificação


A perícia do fragmento de bala que atingiu e provocou a morte da menina Ágatha Félix, de oito anos, concluiu que o projétil "é adequado a arma de fogo tipo fuzil". No entanto, o exame de balística não conseguirá identificar de que arma partiu o disparo. Isso porque o estado do artefato ; ;apresentando acentuado amassamento lateral atingindo todo seu eixo longitudinal;, segundo o documento ; impede que se saiba, segundo os peritos, determinar se o tiro veio da polícia ou de algum bandido. O laudo foi apresentado ontem, na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), que investiga o caso, e acrescenta que a bala tem ;aspercto encurvado (;) impregnação de material de coloração avermelhada com características similares a sangue;.

Os investigadores também receberam o laudo do Instituto Médico Legal (IML), que apontou que a menina tinha uma perfuração nas costas e que teve como causa da morte "lacerações no fígado, rim direito e vasos do abdômen".

Desde a morte de Ágatha, a Polícia Civil já ouviu 20 testemunhas, incluindo os pais e dois tios da menina, 11 policiais militares ; e não 12, como chegou a ser divulgado ;, o motorista e o dono na kombi que a transportava, além de outras três pessoas.

Ao todo, sete armas foram apreendidas com os policiais e foram ou serão encaminhadas à perícia. Nos depoimentos, eles alegam que somente três delas efetuaram disparos. A reconstituição do crime deve acontecer na próxima terça-feira.

Amedrontados

Os pais de Ágatha afirmaram, em depoimento também ontem, que não havia confronto no Complexo do Alemão no momento em que ela foi baleada. A mãe, Vanessa Salles, disse ainda que o disparo veio de onde estavam policiais militares, mas não soube precisar se o tiro partiu de um deles.

Adegilson Félix e Vanessa chegaram à Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) por volta de 10h20 e não falaram com a imprensa. No início da tarde, o advogado Rodrigo Mondego, integrante da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ e que acompanha a família, disse que as testemunhas estão com medo.

"A família quer refutar com veemência a versão de que havia tiroteio no local. Todas as testemunhas por parte da família dizem que não houve tiroteio naquele determinado local, e não sabem de onde partiu a bala. A bala pode ter partido de uma briga de bar, pode ter partido de um marido tentando matar a mulher, pode ter partido de um marginal ou de um policial", declarou Mondego, que acrescentou:

"(A mãe) afirmou que o tiro veio da direção de onde tinha policiais, mas até agora não tem, por parte da família e de outras testemunhas, certeza de que partiu diretamente de um policial."

O advogado afirmou que as testemunhas estão acuadas, e que o motorista da kombi relatou estar se sentindo ameaçado, mas não deu detalhes.

"A gente não quer expor mais detalhes por uma questão de segurança das testemunhas. As pessoas moram numa comunidade conflagrada do Rio de Janeiro, têm medo, sofrem pressão de todos os lados", insistiu.

Apesar disso, Mondego declarou que todos confiam nas investigações sobre a morte da menina. "A gente confia no trabalho da Divisão de Homicídios. A família e a gente acredita que eles possam fazer um bom trabalho para solucionar de onde partiu o tiro que vitimou a Ágatha."