Segundo a Polícia Civil, dos seis indiciados pelo crime de tortura, quatro eram funcionários do estabelecimento e dois, de uma empresa de segurança. Um dos suspeitos teria sido o autor do vídeo e divulgado nas redes sociais.
Na semana passada, um vídeo mostrou seguranças batendo com um bastão e usando uma arma de choque contra um homem acusado de furto. A vítima ainda teve a boca amordaçada com fio elétrico. A tortura durou cerca de 15 minutos.
O caso aconteceu no supermercado Extra Morumbi, na zona sul paulistana. O supermercado lamentou o fato e disse, por meio de nota, que proíbe o uso de qualquer tipo de violência. Um inquérito foi aberto no 89; Distrito Policial para apurar os fatos. A empresa de segurança Comando G8, responsável pelo serviço de guarda patrimonial do estabelecimento afirmou que um dos funcionários citado no caso foi identificado e afastado. Esta foi a segunda denúncia de tortura praticada por seguranças de supermercado somente neste mês, em São Paulo.
De acordo com os delegados Roberta Guerra Maransaldi e Estevão Tirone de Almeida Castro, ambos do 89; Distrito Policial (Jardim Taboão), dois acusados já prestaram depoimento e confirmaram participação na tortura. Três serão ouvidos amanhã(25).
Em depoimento, um dos acusados confessou ter torturado a vítima com aplicação de choques elétricos, equipamento que ele disse ser seu mesmo. Por isso ele foi denunciado pelo crime de tortura. Outro suspeito teria sido responsável por golpear a vítima com vassoura e também será indicado por tortura ativa. Os demais foram denunciados por tortura de forma omissa já que, embora não tivessem torturado a vítima, permitiram que ela fosse torturada pelos demais. No caso da prática da tortura, a pena pode chegar a 8 anos de reclusão. Já no caso de omissão, a pena é de até quatro anos de reclusão.
Segundo os delegados, o caso ficou conhecido apenas recentemente, mas pode ter ocorrido entre abril de 2017 e janeiro do ano passado. A vítima foi torturada após ter furtado três peças de carne. Esta era a terceira vez em que ela era pega furtando no mercado. ;No dia do crime, o Setor de Prevenção de Perdas [do supermercado] surpreendeu uma pessoa furtando e pegando três peças de carne. No momento em que ele [o rapaz suspeito de furtar carne] deixava o supermercado, quatro funcionários do supermercado o detiveram, chamaram os seguranças e o conduziram para uma sala que não tinha utilização no supermercado. Os funcionários pediram para que os seguranças ficassem na porta, impedindo o acesso de outras pessoas. Por dez minutos eles ficaram com a vítima na sala praticando torturas. Passados dez minutos, os seguranças entraram na sala, a vítima gritava muito, e não cessaram a tortura. Lá eles permaneceram por mais cinco minutos. Quando os seguranças entraram, a vítima já estava com as calças abaixadas e amordaçada. No vídeo dá para ver a utilização da máquina de choque e também a utilização de um cabo de vassoura;, disse a delegada.
A vítima já foi identificada, mas ainda não foi localizada pela Polícia, que tenta convencê-la a prestar depoimento e reconhecer os autores da tortura.
Outro caso
No início do mês, a Polícia Civil começou uma investigação sobre um outro vídeo que circulava nas redes sociais mostrando um adolescente nu e amordaçado sendo chicoteado por seguranças do supermercado Ricoy, na zona sul paulistana. Após a divulgação do primeiro vídeo, surgiram outras imagens de maus tratos que teriam sido praticados no mesmo estabelecimento.
Os dois seguranças acusados de chicotear o jovem foram presos. Em nota, o supermercado afirmou que ;todos os casos de agressão, discriminação ou violação dos direitos humanos devem ser punidos com o maior rigor da lei. Por isso o Ricoy está colaborando com as investigações de forma irrestrita e proativa;. O comunicado diz ainda que o supermercado nunca orientou ;qualquer conduta que estimule a violência, a discriminação, a coação, o constrangimento ou a força desmedida e desnecessária;.