A estiagem e o calor já causam falta de água em cidades do interior de São Paulo. Ao menos quatro prefeituras adotaram medidas para restringir o consumo, que está mais elevado que o esperado devido às altas temperaturas e à baixa umidade do ar. De acordo com as prefeituras, sem chuvas mais intensas há dois meses, em média, e com o consumo maior, houve queda no nível dos mananciais de abastecimento.
Em Américo Brasiliense, o abastecimento é interrompido em dois períodos diários, das 14h às 17h e das 23h às 4h. O racionamento atinge o centro e quinze bairros adjacentes. A cidade, de 42 mil habitantes, é abastecida por poços profundos. Segundo o titular do Departamento de Água, Esgoto e Meio Ambiente (Daema), Luis Henrique Estevam, a medida foi necessária porque o consumo aumentou de 25% a 30% nas últimas semanas. "Tivemos um período de calor inesperado nesta época e não estamos conseguindo manter a reserva de água para manter a cidade abastecida o tempo todo", disse.
O município está fazendo apelos para o uso racional da água pela população, que deve evitar a lavagem de carros, calçadas e quintais, e a troca da água das piscinas. "Nossas bombas são controladas eletronicamente e verificamos que elas não estão parando durante a madrugada, como deveria acontecer. Achamos que, por medo de faltar água, as pessoas estão fazendo estoques ou abastecendo as piscinas", disse Estevam. O racionamento vai vigorar até que o consumo se normalize.
Em Tambaú, cidade de 23 mil habitantes, a prefeitura restringiu por decreto a lavagem de carros, calçadas e quintais para evitar o racionamento de água. Essas atividades só podem ser feitas às terças, quintas-feiras e sábados, sendo proibida nos demais dias da semana, inclusive aos domingos. O munícipe que descumprir o decreto pode ser multado em R$ 750. A medida visa a evitar o racionamento, que chegou a ser adotado em anos anteriores. O decreto entrou em vigor no início de agosto e ainda não houve autuações.
Em Bauru, o Departamento de Água e Esgoto foi obrigado a reduzir em 30% a captação do Rio Batalha devido ao baixo nível do manancial. A medida faz parte de um plano de contingência de estiagem "para evitar o racionamento nos bairros que dependem do manancial", segundo a prefeitura. O departamento fez um apelo à população para o consumo racional. "Os consumidores devem adotar medidas para evitar o desperdício, como, por exemplo, não lavar calçadas e carros, tomar banhos mais curtos e deixar a torneira fechada enquanto escova os dentes ou faz a barba", divulgou. Caminhões-pipas estão sendo usados para abastecer casas que não possuem caixas dágua.
Em Sorocaba, a represa do Ribeirão do Ferraz que abastece o distrito industrial e parte da zona norte da cidade, estava com 51% da capacidade nesta quinta-feira, 19, enquanto a do Rio Ipaneminha estava com 45% - volumes baixos para a época. Conforme o diretor Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), Marcelo Moretto, houve aumento de até 18% no consumo este mês devido ao calor, mas não há risco de racionamento.
A população de Santa Cruz das Palmeiras, que já enfrentou desabastecimento nos últimos dias, vai ficar sem água nesta sexta-feira, 20. Conforme a prefeitura, há um vazamento na principal adutora do sistema e a rede precisa ser desligada para a localização do dano e o reparo. A expectativa, segundo o município, é de que o dano possa ser recuperado e o abastecimento volte ao normal.
O Sistema Cantareira, que abastece cerca de 7,5 milhões de pessoas por dia na Região Metropolitana de São Paulo, operava com 48,6% de sua capacidade nesta quinta-feira, segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Apesar do volume de água ter decrescido nos últimos dias devido ao calor e à estiagem, o manancial ainda está acima do nível de alerta, que acontece quando baixa a menos de 40%. As outras represas que abastecem a região metropolitana estão com nível mais alto, o que eleva o volume total disponível para 67,4%.
O Cantareira complementa a vazão dos rios das Bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), que abastecem municípios das regiões de Campinas, Jundiaí e Piracicaba, no interior, bastante atingidos pela estiagem. O Rio Piracicaba, o principal dessa região, tinha vazão de 20,11 metros cúbicos por segundo nesta quinta, quase um terço da média histórica do mês, de 59,63 m3/s. O Rio Jaguari entrou em alerta, com vazão de 3,37 m3/s próximo de sua foz.