O governo do Acre enviou ao Ministério da Justiça pedido de apoio da Força Nacional para reforçar o combate aos incêndios na Floresta Amazônica. Foram solicitados 30 bombeiros militares, que devem sair de Rondônia e serem deslocados à região afetada imediatamente após a autorização, devendo permanecer até 24 de setembro.
De acordo com o documento enviado na sexta-feira passada, foi decretada situação de emergência no estado, portanto, no período, o governo pode adquirir, sem a necessidade de realizar licitações, os bens necessários para as atividades de resposta à situação. Também é possível a prestação de serviços e a execução de obras relacionadas à reabilitação dos cenários de ;desastres;, desde que possam ser concluídas no prazo máximo de 180 dias consecutivos e ininterruptos.
A porta-voz do governo do Acre, Mirla Miranda, afirmou que os focos de incêndio foram reduzidos devido a uma chuva forte, ocorrida na quinta-feira passada, e aos resultados de uma força-tarefa do governo, da Defesa Civil e do Ministério Público do estado para conscientização da população. Ela aponta, porém, que o desafio ainda é eliminar a grave cultura de queimadas dos pequenos produtores e colonos. ;Nesse período, é quando as pessoas mais queimam e precisam ser conscientizadas;, disse.
Aliado à umidade baixa, estiagem, rios abaixo da capacidade ideal e calor intenso, as queimadas deste ano tiveram uma proporção maior, mas segundo a porta-voz, foram previstas pelos órgãos de proteção ao meio ambiente do estado.
;O clima ajudou nessa mudança radical e deu a amplitude das áreas queimadas, mas nada que não seja esperado. No ano passado, o nível de umidade estava menor e tivemos quase o mesmo nível de queimadas deste ano;, afirmou. Segundo Miranda, os municípios que tiveram cenas críticas foram Sena Madureira, Feijó e Tarauacá.
Já o Observatório do Clima informou que, comparado ao ano passado, o Acre teve menos dias sem chuva (24 dias) e um número maior de focos de fogo (2.920). Nota técnica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) demonstra, em gráficos, que o desmatamento no Acre neste ano foi quase o dobro do registrado entre 2011 e 2018, sendo que o maior registro é em propriedades privadas, o que seria a motivação para tantas queimadas.
Pico antecipado
Segundo a Diretora de Ciência do IPAM, Ane Alencar, pesquisadora da Floresta Amazônica há 25 anos, normalmente o pico das queimadas ocorre em setembro, mas, este ano, começou em agosto, o que assustou os ambientalistas.
A pesquisadora explica que, para um produtor formar um pasto, ele tem que derrubar a floresta e esperar três meses para colocar fogo na pastagem. ;Não foi nenhum tipo de fogo causado por uma catástrofe climática. ;95% dessas áreas foram desmatadas de forma ilegal e a taxa de desmatamento estimada para esse período foi o maior dos últimos 10 anos;, afirmou. Esse fogo que a gente viveu em agosto e que continua queimando a Amazônia, mas bem menos agora, foi causado pelas pessoas que desmataram em maio e junho. Então, ainda tem área para queimar e ainda têm pessoas que desmataram e ainda vão queimar;, lamentou.
De acordo com a pesquisadora, o Código Florestal permite queimadas e desmatamento legais. Os donos de terra podem desmatar até 20% das suas propriedades, mas, para isso, é necessário uma licença de supressão emitida pelo órgão estadual. A mesma regra serve para as queimadas. ;É importante ser cumprida a lei. O Código Florestal garante o papel social das florestas e precisa ser respeitado;, disse.
* Estagiária sob supervisão de Cláudia Dianni