Valdir Bispo dos Santos, um dos seguranças suspeitos de participar da tortura de um jovem de 17 anos no supermercado Ricoy, em São Paulo, se entregou à Polícia Civil neste sábado, 7. O outro investigado, David Oliveira Fernandes, já havia sido preso nesta sexta-feira, dia 6.
A ordem de prisão temporária - por cinco dias prorrogáveis - partiu da juíza criminal Tatiana Saes Valverde Ormeleze e acolhe representação da Polícia Civil de São Paulo. A magistrada também autorizou buscas e apreensões contra os investigados.
A juíza anota que "há fortes elementos ligando os representados à autoria do crime de tortura, tanto que foram divulgadas gravações do ofendido sendo açoitado pelos seguranças". "Ademais, o relato da vítima é detalhado em apontar como ocorreram as agressões".
"Outrossim, é presumível que a recolocação do representado em liberdade, após ser conduzido à delegacia, poderia frustrar completamente o intento investigativo é fácil concluir que, uma vez ciente das suspeitas que recaem sobre si, o agente buscaria apagar pistas e ocultar provas e, o que turbaria irremediavelmente as investigações. Em suma, é preciso esclarecer o mais rápido as circunstâncias do gravíssimo crime praticado, justificando o expediente", anota a magistrada.
Depoimento
Em depoimento, o rapaz afirmou que, no mês passado, "em data que não recorda", esteve no Supermercado Ricoy, "onde apanhou das gôndolas uma barra de chocolate e tentou sair sem efetuar o pagamento". E que "foi abordado na saída pela pessoa de Santos, segurança do local, o qual conhece já há algum tempo".
"Ele foi auxiliado por Neto que juntos levaram a vítima até um quarto nos fundos da loja", narrou. O jovem acrescentou. "Ali a vítima foi despida, amordaçada, amarrada e passou a ser torturada com um chicote de fios elétricos trançados. Ali, permaneceu por cerca de quarenta minutos, sendo agredido o tempo todo".
Arma
Esta não é a única investigação a respeito da conduta de agentes de segurança do Ricoy. Uma mulher negra denunciou à Polícia Civil, em abril, uma abordagem de seguranças do supermercado Ricoy que a fez "imaginar estar sendo assaltada".
O caso teria ocorrido em abril. A mulher prestou depoimento ao 98º Distrito Policial, do Jardim Miriam, zona Sul de São Paulo. A abordagem ocorreu, segundo a vítima, em uma unidade do Ricoy que fica na mesma avenida daquela em que o rapaz foi chicoteado. A rede tem duas unidades na mesma avenida, na Vila Joaniza, zona sul de São Paulo.
"Um deles apontando arma de fogo, tirou as duas bolsas de suas mãos e passou a revistá-las; que decidiu retornar ao mercado para certificar-se que as duas pessoas que a abordaram era funcionários do local", consta no Boletim de Ocorrência.
Defesa
"O Ricoy Supermercados apura todo e qualquer caso de violência. Mais do que isso, sempre vai colaborar com as investigações e as autoridades para garantir que todos os fatos sejam esclarecidos. E enfatizamos que somos contrários e não compactuamos com qualquer tipo de discriminação ou violação de direitos humanos. Por isso, o Ricoy espera que sejam punidos no rigor da lei sempre que o crime for comprovado."
"Em relação aos fatos lamentáveis registrados em vídeo divulgado amplamente, o Ricoy Supermercados esclarece o seguinte:
1. Ficamos chocados com o conteúdo da tortura em cima do adolescente vítima da violência.
2. O Ricoy desde sua fundação na década de 1970 exerce os princípios mais rígidos de valorização do ser humano, seja em nossas lojas ou em nossa comunidade. Ficamos muito abalados com a notícia que nos causou repulsa imediata.
3. Os dois seguranças acusados de praticarem os atos são de empresa contratada terceirizada e não prestam mais serviço para nossos supermercados.
4. Para manter a coerência em contribuir com as investigações, nesta terça-feira (3), um funcionário da loja Yervant Kissajikian, 3384, prestou depoimento no 80º Distrito Policial.
5. O Ricoy já disponibilizou uma assistente social para conversar com a vítima e a família. E dará todo o suporte que for necessário.
O Ricoy Supermercados condena e repudia todos os casos de violência, discriminação ou violação dos direitos humanos envolvendo direta ou indiretamente suas lojas.
O Ricoy Supermercados acredita que para a construção de um país mais justo é preciso uma sociedade mais igualitária, mais tolerante com as diferenças e sem preconceitos.
Não por acaso é importante enfatizar que desde a sua fundação o Ricoy Supermercados reflete em seu corpo de colaboradores a grande diversidade dos brasileiros. E diante das notícias dos últimos dias, enfatiza: espera que todos sejam punidos no rigor da lei sempre que o crime for comprovado."