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Programa inédito da Unesp aceita doações até por cartão de crédito

Um programa inédito da Universidade Estadual Paulista (Unesp) vai incentivar doações até por cartão de crédito. Por meio de uma plataforma na internet que entrou no ar besta quinta-feira, 29, o interessado já assina digitalmente um contrato e faz o pagamento da maneira que escolher. A Unesp passou recentemente por sua pior crise financeira, com décimo terceiro atrasado e todo orçamento comprometido com salários. Anteriormente, quem quisesse fazer uma doação para a Unesp não sabia sequer quem procurar. O mesmo acontece em outras universidades públicas. "Era muita burocracia. Uma pessoa quis doar para Educação Física e esse pedido chegou até o Conselho Universitário, órgão máximo da instituição. Isso tem de acabar", conta o reitor da Unesp, Sandro Valentini. Com o novo programa, o doador pode dar qualquer valor à instituição e decidir se vai ou não destinar o recurso a uma unidade específica. A universidade já tem uma plataforma que reúne seus ex-alunos, com 20 mil cadastrados. A Unesp vai ter um departamento para fazer uma busca ativa de possíveis doadores tanto nesse grupo como fora dele. A estimativa é que a universidade, fundada em 1976, tenha 160 mil egressos, entre eles a apresentadora Ana Maria Braga e Antonio Carlos Tadiotti, dono da empresa Predilecta. Exemplo O empresário Alexandre Leite Lopes decidiu fazer sua doação quando levou a filha, que havia sido aprovada no vestibular da Unesp deste ano, para conhecer o câmpus. "Vi as faixas dizendo que estavam com o décimo terceiro salário atrasado", conta. Sem saber como proceder, ele mandou uma carta para o diretor do curso, falando da intenção de doar. Nesta quinta-feira ele participou do evento em São Paulo que lançou o programa Parceiro Unesp e foi o primeiro doador a usar a plataforma. "Poderia pagar a universidade da minha filha e ela está em uma instituição pública. Por que não ajudar como fazem nos Estados Unidos?" Lopes não quis divulgar o valor da doação nem o curso ou nome da filha para evitar qualquer relação da menina com os recursos. "É algo para a universidade." Ele é formado em Engenharia e estudou em faculdade privada. Segundo o reitor, já é possível fazer a doação em depósito bancário. Boletos e cartões serão permitidos nos próximos meses. Assim que o dinheiro cair na conta criada para o Parceiro Unesp será imediatamente transferido para onde foi dirigido e o gestor pode usá-lo para qualquer atividade, como comprar computadores ou pintar uma sala de aula. "O nosso modelo de financiamento depende da atividade econômica", diz o reitor. Unesp, Universidade de São Paulo (USP) e Estadual de Campinas (Unicamp) se mantêm com 9,57% do que é arrecadado pelo ICMS do Estado. A diminuição desse valor nos últimos anos e o inchaço na folha de pagamento levaram recentemente a graves problemas financeiros nas instituições, que são responsáveis juntas por um terço da produção científica do País. Além das doações simples, o programa vai permitir parcerias com empresas, com contrapartida da universidade. Será possível desde a colocação de um placa numa sala reformada pela doadora até a utilização de espaços das instituições para eventos. A empresa que pretende doar para a Unesp também pode solicitar, por exemplo, o uso de um laboratório para pesquisas específicas. Nesse caso, a universidade terá de abrir uma licitação para checar se há outros interessados. A participação da iniciativa privada é tema polêmico nas universidades públicas e há grupos contrários, tanto por temer uma "privatização" da instituição, como por acreditar que os recursos públicos podem ser diminuídos com ações desse tipo. Mas o programa teve pouca resistência e foi aprovado no órgão máximo da Unesp, o Conselho Universitário. 'Endowment' A Unesp ainda aprovou ontem um projeto de "endowment", um fundo perpétuo para a instituição em que apenas os rendimentos auferidos revertem para projetos. Outras tentativas de fundos semelhantes - comuns em universidades estrangeiras - não tiveram êxito no País. Um dos poucos a dar certo é o gerido por ex-alunos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.