Após criticar os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que apontaram aumento de 88% no desmatamento da Amazônia em junho ante igual mês do ano anterior, o governo apresentou, ontem, estudos que contrariam o índice apurado pelo órgão. Além disso, será criado um novo modelo para avaliar a redução da Floresta Amazônica.
Segundo o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, a metodologia utilizada pelo sistema Deter, do Inpe, acumula ocorrências de outros períodos, por isso, a expansão de 88% não corresponderia à verdade. Apesar de não apresentarem o número que consideram real, o ministro e o presidente Jair Bolsonaro garantiram que o aumento no desmatamento foi muito menor.
Salles explicou que se reuniu com o ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, e as equipes do Inpe e do Ibama para analisar a questão. ;De ontem para hoje, o número que vem sendo aventado é de 12% de aumento. Não queremos esconder a realidade. O desmatamento vem crescendo, mas é preciso fazer a real análise dos números;, explicou. ;A fórmula adotada até agora não é a mais adequada. Para que a discussão possa ser feita de forma razoável, é preciso retirar um pouco do sensacionalismo que está por trás das divulgações;, afirmou.
Para confrontar os dados do Inpe, a apresentação do ministro focou o desmatamento do mês de junho de 2019, com base nas informações do Deter, a partir de um corte raso de 878,51 km; e 3.250 alertas de desmatamento. ;Analisamos 500 dos 3.250 alertas, que representam 493 km;, 56% da área total. E verificamos que 266 km; não ocorreram em junho de 2019, portanto, não corroboram o percentual de 88%;, justificou.
O governo anunciou que vai construir um novo modelo de monitoramento por imagens de alta resolução, com tempo diário, para evitar lapsos temporais que provocam ;distorções muito grandes;. ;Isso vai se somar ao trabalho do Deter, e vamos ajudar o Inpe, inclusive, a recompor o quadro técnico;, afirmou Salles. Segundo ele, quem faz a análise não são servidores, mas bolsistas, e há rotatividade grande. ;Queremos um corpo técnico permanente, capacitado.;
Para a comunidade científica, que garante que o Brasil é referência em monitoramento do desmatamento, a postura do governo pode derrubar a credibilidade do Inpe em termos globais. Salles garantiu que as mudanças ;não fragilizam a credibilidade do órgão;. ;Ao contrário, são medidas para dar mais condições de trabalho, reconhecendo o grande papel que cumpre.;
- Ameaça de demissão
Indagado sobre o futuro do diretor do Inpe, Ricardo Galvão, que contesta as críticas do governo, Bolsonaro afirmou que, ;se ele quebrar a confiança, vai ser demitido sumariamente;. ;Não tem desculpa para quem quer que seja divulgar um dado com essa importância para o Brasil. A perda da confiança é uma pena capital. Agora, teremos muita responsabilidade em identificar se houve ou não má-fé por parte dessa pessoa;, disse.