Diogo Cavalcante/Diário de Pernambuco
postado em 27/07/2019 09:30
A forte chuva que caiu na madrugada de terça-feira (23/7) para quarta (24) causou um estrago duplo em Igarassu, área norte da Região Metropolitana do Recife. A precipitação por lá foi de 141,9 milímetros. Além de mais de 40 deslizamentos de terra (sem vítimas), o nível do Rio São Domingos (Rio Igarassu) subiu e inundou boa parte da cidade. Até o fim da tarde desta sexta (26), 216 pessoas ainda estavam sem ter para onde ir - 114 delas somente no abrigo montado na Escola Nossa Senhora da Conceição, no bairro de Agamenon Magalhães, um dos mais castigados pelo aguaceiro.
Na Rua do Sabiá, quase todos os moradores tiveram suas casas inundadas, com alagamentos de até três metros. ;A gente se acordou com o dilúvio entrando cada vez mais dentro da casa. Quando eu saí de dentro, estava com água na altura da cabeça. Só consegui salvar minha cachorrinha;, conta a dona de casa Maria de Lourdes da Silva, 54 anos.
[SAIBAMAIS]Sua residência foi destruída pela enxurrada: ;Nem roupa, nem documento, não consegui pegar nada. Eu não tenho casa mais;. O abrigo, claro, não substitui um lar. ;Sinto falta da minha casinha. De poder ter onde botar minha cabeça embaixo. Aqui é o lugar dos meninos estudar. Hoje tem o colégio, mas e quando eu não puder ficar mais aqui?;, angustia-se.
Outra pessoa afetada foi a dona de casa Ericlecia Floro, 26. ;Foi lama demais, água demais. Não tem condições de voltar para minha casa;, desabafa. Ela se recupera de uma cirurgia de pedra na vesícula e, se não fosse o apoio da mãe, Vera Lúcia de Oliveira, 50, Ericlecia estaria sozinha com seus três filhos na escola-abrigo. ;É eu, ela e Jesus. Ajuda só de Deus mesmo, e da prefeitura. Minha filha perdeu tudo. A gaveta da geladeira dela está cheia de lama. Tem muita barata, lacraia e até sanguessuga;, diz Vera, às lágrimas.
No alojamento do colégio visitado, não se via somente desabrigados ou funcionários da prefeitura: muitos vizinhos se dispuseram a ajudar na acolhida da população de forma voluntária. A estudante de enfermagem Jaqueline Maria, 30, era uma delas: ;Nossa casa está bem, nossa família está bem, então é hora de unir forças e dar as mãos. Eu aqui estou ajudando, junto a outras colegas, na cozinha".
Raio-x do desastre
A prefeitura de Igarassu admite que ainda não conseguiu contabilizar absolutamente todos os danos causados pela chuva. Pontes foram destruídas, calçamentos foram levados embora e, até o final da tarde de sexta, o número de domicílios danificados ou destruídos (por inundação ou por deslizamento de terra) era de 157, sendo 103 unicamente no bairro de Agamenon Magalhães. E esses índices podem aumentar.
;Quando a água subiu, subiu muito rápido. Segundo relatos dos moradores mais antigos, há mais de 30 anos que não tínhamos uma concentração de água tão grande;, lamenta o secretário de Políticas Sociais de Igarassu, Ivson Marcelo. O gestor da pasta pondera que a maior preocupação do executivo municipal, em um primeiro momento, era o de ajudar a população desabrigada. ;Acredito que no sábado teremos dados mais consolidados sobre a chuva;, acrescenta.
Existem quatro abrigos montados pela prefeitura, escolas municipais Evangelina Delgado, em Três Ladeiras; Senador José Ermírio de Moraes, em Ana de Albuquerque; Vereador José Jaime, na Tabatinga; e Nossa Senhora da Conceição, no Agamenon Magalhães (visitada pela reportagem).
Como há muitas pessoas precisando de donativos (comidas, roupas, colchões e produtos de limpeza), existem cincos pontos de arrecadação de material: nas escolas Dalila de Melo e Adolfo Brol, no Shopping Igarassu, no Mariapolis Santa Maria e na Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, em Cruz de Rebouças.