Brasil

Primeiro coro brasileiro a ir a festival europeu termina em primeiro lugar

Apresentação na Áustria foi no ínicio de julho e rendeu um convite para o Festival de coros juvenis da Bratislava, que ocorre em 2020

Thays Martins
postado em 17/07/2019 16:18
grupo de coral está sentado em um palcoTradicionalmente os corais são comuns na Europa, mas um grupo brasileiro conseguiu destaca exatamente lá na terra dos grandes grupos musicais. O Coro juvenil São Vicente a Cappella (SVAC), do Rio de Janeiro, participou do Suma Cum Laude ; International Youth Music Festival. Este é simplesmente o maior festival de coros do mundo e esta foi a primeira vez que um grupo latino-americano se apresentou por lá. A competição ocorreu em Viena, na Áustria, no inicio deste mês. E o mais surpreendente: o coro brasileiro ficou em primeiro lugar, empatado com um grupo sul-africano.
O bom desempenho é o resultado de 20 anos de trabalho. O coro é uma iniciativa da regente Patrícia Costa e atende aos alunos, ex-alunos do Colégio São Vicente de Paula, que fica no bairro do Cosme Velho, no Rio de Janeiro, além de crianças da comunidade. ;O projeto de levar o SVAC para se apresentar e competir na Europa é uma parte de outras atividades que busco fazer em prol do desenvolvimento do coro juvenil. Nossa população não tem o hábito de escutar música coral, não a valoriza e, pior, ainda não consegue percebê-lo como excelente instrumento de educação para nossas crianças e jovens;, explica Patrícia.
Ao todo, o grupo de 27 pessoas fez sete apresentações pela Europa: uma em Salzburg, na Áustria, quatro em Viena, uma em Praga, na República Tcheca e a última em Munique, na Alemanha. O concurso foi na segunda apresentação em Viena. ;Logo na passagem de palco do primeiro concerto, em Salzburg, chegamos a chorar no aquecimento, por nos darmos conta de estarmos cantando em um lugar tão perfeito para o nosso som;, lembra Patrícia. ;Entramos com muita segurança, sobretudo, porque no aquecimento percebemos que nos superamos e que ;já éramos vencedores;, independente do resultado, por termos conseguido chegar até aqui;, completa.
O projeto foi ousado. O grupo apresentou Ave Verum Corpus, composta por ninguém menos que o austríaco Mozart. Eram 20 minutos de apresentação, e o grupo ainda foi de Nunc Dimittis, de Gustav Holst e algumas peças brasileiras, como Águas de Março, de Tom Jobim. ;Cantar Mozart na terra de Mozart foi fruto de muita preparação. E também não abrimos mão de fazer do nosso jeito, ou seja, com direção cênica, movimentação não tradicional em algumas peças, percussão corporal. Creio que isto também chamou atenção do júri;, conta Patrícia.

Veja alguns trechos da apresentação

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Para conseguir o feito, o grupo teve que se virar. Sem patrocínio tiveram que arrumar outras formas de bancar os gastos, que chegaram a quase R$ 500 mil. ;Fomos atrás de empresas e de editais de fomento às artes e à cultura. Não conseguimos nada. Nenhuma empresa nos abriu as portas, nem para expor o projeto. Nenhuma companhia aérea se interessou por nosso grupo. Nenhuma embaixada nos respondeu os e-mails que mandamos. Não conseguimos entrar em editais e tivemos o projeto de Lei Rouanet negado três vezes, o que nos diminuiu a possibilidade de captar;, explica. Foi aí que se juntaram e fizeram duas campanhas de financiamento coletivo, rifas, concertos, além de tirar do próprio bolso para viabilizar a realização do sonho.

Experiência única

Um dos participantes do coral, o estudante de publicidade João Pedro Romano, 22 anos, canta no naipe de barítonos desde 2013. Ele lembra que o interesse em participar da iniciativa partiu de ver uma apresentação de coral. ;Saí aos prantos do show e sabia que aquilo precisava fazer parte da minha vida;, recorda.

Para ele, participar do festival na Áustria foi além das expectativas. ;Foi a realização de um sonho que parecia impossível. Chegar lá, poder mostrar um pouco do nosso trabalho, se comunicar por meio da música, e principalmente, mostrar que o canto coral juvenil existe no Brasil, eram nossas metas, e tenho certeza que foram muito bem concluídas;, comemora.
O concurso não gera prêmio em dinheiro, mas o coro saiu de lá muito satisfeito. Além do reconhecimento, receberam um convite para participar do Festival de coros juvenis, que ocorre em Bratislava, na Eslováquia, em 2020. ;Fomos convidados pelo maestro Milan Kolena, que estava no júri e também ministrou um workshop. Comentando sobre a enorme dificuldade de captação para uma viagem deste porte, ele nos disse que estaria esperando também para 2021, caso precisasse esperar mais;, explica Patrícia Costa.

Projeto inspira outros coros

Entre a comitiva que foi para a Europa, também estavam regentes de outros coros brasileiros que vêem o Coro juvenil São Vicente a Cappella como uma grande inspiração. Entre eles, estava Gerson Daniel Giese, que é regente coral no interior do Paraná. Lá são cinco coros em quatro cidades, que atendem a mais de 250 crianças e adolescentes. ;A proposta do Movimento Coral Juvenil no oeste do Paraná é diferente. É instigar a música vocal coral em grupo para adolescentes. E está funcionando. Eles cantam desde MPB até canções estrangeiras e eruditas. Tudo sem custo para participar e sem teste vocal;, explica. O projeto ocorre nas cidades de Marechal Cândido Rondon, Nova Santa Rosa, Entre Rios do Oeste e Pato Bragado.
Patrícia Costa e Gerson Daniel no Festival Summa Cum Laude
Gerson lembra que acompanha o trabalho de Patrícia, no Rio de Janeiro, há 15 anos. ;Ela foi fomentando a ideia de que o coro juvenil é possível no Brasil. A criança chegava na adolescência, tinha de parar de cantar e voltar a cantar quando adulto. E Patrícia Costa, nos workshops que fiz em diversas cidades do país, implementou bases que funcionaram e hoje temos estes polos pelo país;, explica. A ida dele à Europa, ele lembra que foi um chamado da própria Patrícia. ;Quando o coro foi selecionado, ela estendeu o convite para outros regentes de coros juvenis do Brasil, como meu caso, para irem juntos e, além de acompanhar o SVAC no concurso e concertos, também aprender in loco como são os coros juvenis fora do Brasil;, diz.

Para ele, a experiência serviu para dar mais entusiasmo no trabalho que é feito no Brasil. ;O que
para europeus e americanos é normal, para nós é um feito inédito. Sobretudo porque percebemos que o canto coral juvenil brasileiro não deixa a desejar em relação aos coros de fora. Como educador voltei mais feliz e motivado para fazer os trabalhos com os coros juvenis aqui no oeste do Paraná. Europa é tudo lindo, maravilhoso, mas, dada as dificuldades, ainda temos muito potencial por aqui com a resiliência do povo brasileiro em nunca desistir;, afirma.





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