A cerimônia foi promovida pela equipe do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) da Prefeitura de Belo Horizonte e contou com todos os elementos presentes nas festas mais requintadas: vestido de noiva, bolo, ornamentação, música ao vivo, álbum de casamento, caderno para os votos e os comes e bebes. O desejo da união, porém, partiu do casal. "Eles externaram o desejo de se casar. Fizemos a cerimônia para mostrar que, mesmo na rua, é possível se amar, encontrar a cara metade e seguir em frente", afirma a supervisora.
Com a mudança do status de relacionamento de Selma e João, os assistentes sociais esperam que o casal possa também encontrar um teto. O coordenador do Creas, Sérgio Riani, explica que o objetivo da ação é promover a saída deles das ruas de forma não compulsória. A equipe que faz a abordagem a moradores de rua já ofereceu a possibilidade de irem para um abrigo, mas, até então, a opção de Selma e João era seguir vivendo nas ruas. ;Agora que terão uma vida a dois, quem sabe não aceitam a oferta de ir para um abrigo de família;, diz Fátima.
A cerimônia foi realizada embaixo de frondosa árvore na Avenida Olegário Maciel, às 12h. Dezenas de pessoas pararam para assistir ao tão esperado momento do ;sim;. Ao som do clássico É o amor, Selma e João disseram que querem ficar juntos seja na riqueza ou na pobreza. Sem-teto, eles se conheceram em Itaúna, na Região Centro-Oeste de Minas, apaixonaram-se e resolveram se mudar para Belo Horizonte há dois anos. Apesar da dureza de viver ao relento, o afeto entre eles cresceu como a flor de lótus desabrocha em terreno pantanoso. Veio o gostar, o querer bem e, então, Selma avaliou que era o momento de darem um passo adiante na relação.
Os comerciantes da região se juntaram para fazer a cerimônia, que parou a Avenida Olegário Maciel, na Região Centro-Sul da capital, na manhã de ontem. João estava ansioso à espera da amada, que, como manda a tradição, se atrasou alguns minutos. A avenida se transformou na nave da igreja por onde a noiva seguiu acompanhada até encontrar o companheiro. De branco, com véu, maquiagem impecável e buquê nas mãos, Selma se emocionou com o momento. "Ele gosta de mim e eu gosto muito dele", afirmou.
João repetiu diversas vezes que a amava e, com ela, quer viver por toda a vida. Não faltaram padrinhos para dar fé do momento de amor entre o casal, que de posses tem o aconchego um do outro. Para a festa não faltou nada. Bolo de noiva, salgados e até espumante. Também teve chuva de arroz e Selma jogou o buquê. Os convidados presentearam os noivos e deixaram os votos em caderno que registrou a presença de todos.
O casamento não tem valor legal, mas para os noivos nem é preciso ir ao cartório. A celebração, que representou a realização de um sonho de ambos, foi conduzida por arte-educadores, que cuidaram do rito e também da música. ;A arte transforma nosso meio. Deixa leve a realidade dura. Muita gente poderia nem dar a devida atenção a Selma e João, que, como qualquer outra pessoa, têm sonhos. Tanto para eles quanto para nós foi momento único e especial;, afirmou o arte-educador Felipe Marçal Anunciação.