Diário de Pernambuco
postado em 09/07/2019 14:34
O agente comunitário de saúde do Recife William César dos Santos Júnior, de 27 anos, pode responder pelo crime de tentativa de feminicídio, caso seja comprovado que havia intenção de matar sua ex-companheira, a atendente de lanchonete Mayara Estefanny Araújo, 19. . Por enquanto, o inquérito considera os crimes de lesão corporal grave e descumprimento de medida protetiva. As investigações continuam e a polícia ainda irá ouvir o depoimento de testemunhas que presenciaram o ataque para concluir o caso.
Uma das pessoas que prestaram depoimento, na delegacia da mulher, afirmou que William teria dito ;se você não morrer disso (dos ferimentos), volto para te matar;, logo após o crime. De acordo com a Polícia Civil, ele usou ácido sulfúrico para atingir a ex com o objetivo de deformar o rosto dela. No entanto, o líquido atingiu órgãos vitais de Mayara provocando uma queimadura em 38% do seu corpo, deixando ferimentos de terceiro grau no troco, pescoço, cabeça e coxas. Ela continua internada em estado grave com no Hospital da Restauração, no bairro do Derby, Centro do Recife.
"Por enquanto, temos materializado nos autos os crimes de lesão corporal de natureza grave pelas consequências de saúde que ela sofreu. Dada a evolução do caso, se houver novas consequências, pode mudar para lesão corporal gravíssima. A gente tem realizado diligências para definir qual seria a verdadeira intenção dele ao planejar essa investida criminosa e se a gente conseguir comprovar que, de fato, ele queria tirar a vida de Mayara, pode responder por feminicídio na modalidade de atentado", esclareceu a delegada titular da Delegacia da Mulher, Bruna Falcão.
Histórico criminal
William já possui histórico criminal. Ele foi condenado no ano de 2016 por estelionato. Após o crime contra Mayara, ele fugiu para o município de Itamaracá, Litoral Norte do estado. Segundo o advogado dele, Ricardo Cesar Lima de Vasconcelos, ele está sendo ameaçado e foi perseguido por moradores de Nova Descoberta. "A prisão preventiva contra ele saiu apenas no dia cinco de julho por crime contra integridade física. Ele não descumpriu a medida protetiva porque ele apenas mandou uma pessoa dar um susto em Mayara. Ele não tinha a intenção de matar, nem se aproximou dela e se arrepende do que fez", comentou Vasconcelos. .
O outro envolvido, Paulo Henrique Vieira dos Santos, de 23 anos, também já havia sido preso por tráfico de drogas e corrupção de menores. Desta vez, ele foi preso em flagrante por lesão corporal grave no último dia cinco. Durante a abordagem, ele tentou fugir da polícia e está respondendo por lesão corporal grave e resistência. A linha de investigação policial aponta que ele segurou a vítima para que o outro agressor conseguisse atingi-la com o ácido. De acordo com a polícia, o depoimento dos dois suspeitos têm contradições. "As versões não se sustentam e não são harmônicas entre si. O que a gente tem desenhado até agora é que, de fato, Paulo segurou Mayara e William atirou uma grande quantidade de ácido contra ela", disse a delegada.
Antes de sofrer o ataque, Mayara já havia comparecido três vezes à Delegacia da Mulher, no bairro de Santo Amaro. O primeiro Boletim de Ocorrência foi registrado no dia 13 de maio por ameça, injúria e agressão sem lesões. No último dia 23, ela recebeu, através da irmã dela, um vídeo com cenas de violência que havia sido encaminhado por William, que afirmou não praticar o mesmo contra ela por terem um filho de dois anos juntos. Pela terceira vez, ela registrou violência por parte da esposa de William. As duas se envolveram em uma briga e ele voltou a ameaçá-la.
De acordo com a delegada, o inquérito anterior estava em andamento no momento em que o suspeito desrespeitou a medida protetiva. "Ele respondia por três crimes, que sim, têm gravidade, mas que a gente só conseguiria materializar com mais facilidade com uma prisão após o inquérito policial ou com a tornozeleira eletrônica. Porque ele ainda não tinha sido informado das proibições da medida protetiva. O inquérito estava sendo concluído com celeridade pronto para ser remetido à justiça quando William praticou esse episódio", comentou Bruna Falcão.
"William admite que planejou a investida criminosa, mas disse que conversou com Paulo para dar um susto na ex. Ele comentou que tinha ácido sulfúrico em casa, para desentupir uma encanação e que percebeu que queimava e decidiu se vingar da companheira. Mas isso é pouco crível, já que ele é agente de saúde. Ele insiste na versão de que ele não tinha acesso ao filho do casal. Segundo William, Paulo aceitou participar espontaneamente e teria sido o responsável pela prática do crime", comentou a delegada.
No entanto, a versão do ex-companheiro foi desmentida pela própria mãe de William, em depoimento à polícia. "A mãe dele foi ouvida e contou que o acesso ao filho do casal era franqueado por Mayara sempre, então a versão não se sustenta. Inclusive, ela disse que se ele fosse fazer alguma coisa contra a ex-companheira, teria que fazer a ela porque antes de ser mãe dele, ela é mulher e não admite esse tipo de prática violenta", disse.