;Ao nascer, o filhote fica bem agarrado ao peito da mãe, condição que é a garantia de que ela tem de alimentá-lo. Antes de completar um mês, já registramos o recém-nascido nas costas dela. Normalmente, isso ocorre no terceiro mês de idade, quando o animal começa a explorar o ambiente;, explica o biólogo Humberto Espírito Santo de Mello, gerente do Jardim Zoológico da Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica. O pequeno parece precoce e encanta os visitantes.
O maior suspense gira em torno do sexo do filhote de menos de um mês. ;A mãe cuida do filhote. Ela o protege e envolve. A gente não consegue observar. Não temos por que pegar o animal para saber o sexo. Deixamos o grupo totalmente à vontade. Como está colocando o filhote nas costas, nosso olhar já se volta para saber se é macho ou fêmea;, diz. Depois de saber qual é o sexo, será feita votação popular para escolher o nome, integrando escolas e os cuidadores dos animais.
No entanto, muita gente que vai ao zoo nem sempre consegue ver o filhotinho, que pode estar com a genitora numa área reservada. O biólogo explica que nada é feito para que os animais possam ser vistos pelo público. A razão para essa atitude é o total respeito aos hábitos dos animais. ;O zoo deixou de ser uma vitrine de bicho. Agora olhamos para o bem-estar deles;, afirma. O novo conceito de cuidado com os animas pode ser traduzido para o visitante pela palavra paciência. Quem quer ver a família de gorilas não pode ser afoito. Às vezes, é preciso aguardar por horas para que eles se aproximem da área onde podem ser mais bem observados. Não é possível prever o tempo necessário, mas se o visitante tiver calma, certamente será recompensado. ;É importante olhar o bem-estar do animal. Em horas mais quentes do dia, eles não ficam na área externa do recinto. Mas, às vezes, vemos a mãe que traz o filhote para tomar sol;, completa o biólogo.
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Leon veio de um zoo da Espanha e Lou Lou e Imbi, da Inglaterra. No novo lar em Belo Horizonte, eles se entrosaram e formaram grupo, que só aumenta, com o nascimento dos quatro gorilazinhos. ;Ainda não sabemos o sexo do mais novo. Adoraria que fosse uma fêmea. Já temos três machos. Mas se for macho, será bem-vindo da mesma forma;, diz Humberto.
O recinto onde vivem é ambientado com árvores, plantas palatáveis, locais para descanso, esconderijos e material para a confecção de ninhos. O espaço conta também com horta com hortelã e salsa. Os gorilas são primatas herbívoros, o que significa que se alimentam basicamente de frutas e vegetais. ;Eles gostam de comer o broto de bambu. Internamente, temos áreas de manobra. São quartos onde a gente consegue ficar próximo do animal, principalmente para tratamento. A dieta é feita e entregue para cada animal. É uma forma de sabermos como cada um está se alimentando;, informa.
A dieta dos primatas é composta de folhagem, legumes, poucas frutas, sucos e castanhas. Também comem bolo feito com fibra, que complementa a dieta para que eles tenham nutrientes necessários para crescer fortes. A família de gorilas vem ocupar o lugar de estrelato que, por muitos anos, foi do solteirão Idi Amin. Os gorilas são os moradores mais amados do Jardim Zoológico. Depois de 27 anos solitário, Idi recebeu a companhia de duas fêmeas que vieram da Inglaterra, em 2011, mas não teve tempo de se adaptar à nova vida. Ele morreu aos 39 anos, em março de 2012, depois de uma cirurgia.
A empresária Rosana Reis, de 32, foi com o marido Luís Cláudio Oliveira levar a filha Marina Reis, de 4, para conhecer a família de gorilas. E tiveram muita sorte. Viram o momento em que toda a família se alimentava bem de frente para o espaço de observação. ;Ficamos sabendo que no dia em que os veterinários tratam os gorilas é mais fácil para vê-los. Vimos a família toda. Nunca tinha visto tantos gorilas ao mesmo tempo;, contou empolgada.
Extinção
Os gorilas adultos vieram para o Jardim Zoológico de Belo Horizonte depois de indicação do Grupo Europeu de Proteção de Espécie Gorila. ;Eles avaliaram o nosso zoológico. Tínhamos histórico com o Idi Amin. Avaliaram todo o nosso cuidado, instalações, práticas de bem-estar, e aprovaram a vinda desse grupo. Hoje o resultado está aí: família com sete indivíduos;, pontua o biólogo. O grupo é liderado pelo macho, que protege as fêmeas e os filhotes. Leon observa todo o território antes de fazer sinal para que as fêmeas e os filhotes se aproximem. ;O grupo social tem o macho alfa, o protetor. O pai dos filhotes. Primeiro ele chega no recinto, vê se está tudo bem e, a partir do momento em que ele dá sinal, o grupo sobe. Ele tem essa característica protetora. Cuida do grupo dele;, informa o biólogo.
Gorilas da planície ocidental
A família formada por Leon, macho alfa do grupo, Lou Lou, Imbi e filhotes é da espécie gorila da planície ocidental, animal que aparece na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza como criticamente ameaçado. Pesam para a condição fatores como caça comercial, doenças e perda de habitats. O Zoológico da Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica de BH tem o único grupo reprodutivo da América do Sul, por isso mesmo alvo de diversas ações de instituições internacionais especializadas na preservação desses primatas, que vivem em média 35 anos na natureza e 50 em cativeiro. Trata-se do primata de maior dimensão se comparado a outros como o chimpanzé, o orangotango e o próprio homem. Os machos adultos podem medir, apoiados nos quatro membros, cerca 1,70 metro de altura, com até 275 quilos. As fêmeas são menores, medindo em torno de 1,50 metro de altura e pesando até 140 quilos. Por serem animais jovens, a expectativa é a de que o grupo do Zoo de Belo Horizonte possa continuar a se reproduzir e contribuir com a melhoria nas estatísticas sobre a espécie.