Ele ainda não sabia, mas começava ali uma história que os moradores de Uberaba (MG) não esquecerão tão cedo. Uma quadrilha de assalto a banco tentou invadir uma agência do Banco do Brasil, no Centro da cidade, numa ação que terminou com duas pessoas baleadas, uma delas em estado grave, com pelo menos 12 pessoas feitas reféns num intervalo de oito horas e intensa troca de tiros com a polícia.
[VIDEO1]Atordoado com os tiros, Leonardo, a mãe e os vizinhos viveram pelo menos duas horas de terror. "Liguei na recepção e o porteiro não atendia. Os vizinhos acordaram e começaram a se aglomerar na escada de emergência em busca de abrigo, mas ponderei que não era seguro porque a parede fica virada para outra rua, onde também havia um carro com bandidos armados fechando a via. Fomos cada um para nossas casas", relembra.
De volta ao apartamento, Leonardo e mãe deitaram-se no chão, na sala de jantar, onde consideraram ser mais seguro. "Ficamos cerca de duas horas deitados no chão, ouvindo os tiros", conta. Os criminosos também explodiram uma bomba. O artefato danificou a rede de energia do imóvel, além de quebrar as placas de blindex. "Eu nunca vi nada parecido na minha vida. Eles tinham muita, muita munição. Parecia um filme", compara Leonardo.
O prédio em que o advogado vive fica a dois quarteirões dos bancos que a quadrilha tentou assaltar, no Centro de Uberaba. Segundo ele, havia drones sobrevoando a região e, cerca de 15 minutos após o fim dos tiros, um dos carros com bandidos armados continuava parado num dos cruzamentos perto do edifício onde ele vive. Só depois que eles foram embora, é que Leonardo desceu.
O porteiro, um homem com mais de 70 anos, estava aos prantos. O idoso se escondeu atrás de uma das pilastras do prédio. "Ele chorava como uma criança. Com uma toalha no rosto, ao telefone com a mulher, ele repetia ;eu vi eles, eu vi os bandidos com arma, apontando;", conta o advogado.
Leonardo pegou uma vassoura e começou a varrer a rua, em frente ao prédio. "Eles (criminosos) quebraram uns dois vidros cheios de miguelito (pregos entrelaçados) na rua. Não tínhamos quem ficasse avisando aos motoristas para não entrar, então, varri e juntei tudo".
Passadas oito horas do tiroteio, nada funciona no apartamento de Leonardo: máquina de lavar, microondas nem chuveiros. Alguns eletroeletrônicos estão queimados. Até as 16h, o prédio continuava sem energia e, portanto, sem elevador e com o portão eletrônico funcionando de forma precária. "Minha mãe está de cama. Ela desabafou hoje comigo: ;eu trabalhei a vida inteira para ter que deitar no chão, dentro da minha casa, para proteger a minha vida;. Isso é muito triste"
Após quase duas horas de negociação, o grupo se rendeu em uma estrada entre Uberaba e Araxá. Eles estavam com sete reféns. Ainda na madrugada, o bando obrigou cinco funcionários de uma farmácia a carregar os malotes de dinheiro da agência para os carros. Um deles foi amarrado no capô do veículo e, todos, liberados no Bairro de Lourdes, em Uberaba.