Além da dificuldade de concluir os estudos, os jovens brasileiros encontram obstáculos para entrar no mercado de trabalho. A Pesquisa por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada ontem, aponta que 51,6% dos 47,3 milhões de brasileiros entre 15 e 29 anos estavam desocupados em 2018. Entre eles, uma fatia de 23%, ou quase 11 milhões de indivíduos, tampouco estavam estudando. São os chamados nem-nem, que não estudam nem trabalham.
Ana Vitória Soares Sousa Santos, 21 anos, faz parte desse contingente. Ela se graduou em gestão de recursos humanos, mas não encontra trabalho. ;Já deixei currículos em muitos lugares, fiz entrevistas, mas nunca consigo. Eles querem pessoas que já trabalharam. Por isso, conseguir o primeiro emprego é o mais difícil;, conta. Segundo a Pnad, apenas 13,5% dos jovens entre 15 e 29 anos estudava e trabalhava no ano passado. Outros 28,6% não trabalhavam, porém estudavam; e 34,9% trabalhavam e não estudavam.
Além de esbarrar na falta de experiência, Ana Vitória relata sofrer preconceitos dos empregadores: ;No final, sempre acabam contratando homens, sempre perguntam se eu tenho filhos. Também sou portadora de necessidades especiais, tenho deficiência moderada e vejo que isso me atrapalha, apesar de ser completamente capaz;.
A questão de gênero também se reflete na Pnad. De acordo com a analista de informações do IBGE Michella Reis, o percentual de pessoas que não trabalha nem estuda é maior entre as mulheres. ;As mulheres estão comprometidas com outras formas de trabalho que não são contabilizadas, como afazeres domésticos, cuidado familiar de idosos, pessoas doentes e crianças. Por isso, encontram menos tempo para estudar ou trabalhar;, explicou.
A desigualdade racial também é destacada na pesquisa. ;A mulher tem desvantagens em relação aos homens no mercado de trabalho, mas tem vantagens no nível de escolaridade. Já negros e pardos têm desvantagens em ambos os casos;, aponta Marcella. Em 2018, 25,8% da população negra ou parda não estudava nem trabalhava, ante 18,5% das pessoas brancas.
Para Marcelo Neri, diretor da FGV Social, o jovem brasileiro enfrenta ainda outras armadilhas. ;Há um problema muito grande para jovens que buscam o primeiro emprego, mas o problema não para por aí. Mesmo os que vencem a barreira do desemprego tendem a voltar para a desocupação;, observou. Segundo o diretor, a chance de pessoas na faixa etária entre 15 e 29 anos perder emprego no próximo ano é de 19,1%, enquanto para outros recortes de idade, é de 14,5%.
Luis Miguel Rodrigues dos Santos tem 26 anos e está desempregado há um ano. Ele trabalhava como garçom, mas precisou sair do emprego para ajudar a irmã, que enfrentou um câncer. Desde então, ele tenta voltar a trabalhar, mas não consegue. ;Faço uns bicos de vez em quando, mas o que eu mais quero é um trabalho com carteira assinada. Estou economizando, porque quero fazer um curso de vigilante para ver se consigo algum trabalho na área;, disse.
* Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo