Carlos Eduardo Pereira, Diretor de Operações da EMBRAPII, explica que as iniciativas surgiram diante da falta de manutenções preditivas na saúde brasileira. ;A maioria da saúde hoje em dia é corretiva, existe pouca prevenção, no sentido de antecipar alguma doença. A ideia dos projetos, a partir de sistemas de computação, análise de BigData e a manipulação desses dados e uso de algoritmos, é adiantar e prevenir complicações;, esclarece Carlos. Vale lembrar que por trás de cada projeto, existe uma empresa responsável pela comercialização do produto.
Monitoramento de sinais vitais
Na área da saúde, cada segundo pode ser crucial no socorro de um paciente. Com o intuito de acelerar antigos procedimentos no monitoramento de sinais vitais, a EMBRAPII e a empresa Integrare Health Tecnology desenvolveram um monitor automático vestível. Acoplado em uma roupa, do tipo ;top;, o dispositivo será capaz de acompanhar informações como frequência cardíaca e respiratória, pressão arterial e temperatura do corpo. Além de proporcionar ao profissional da saúde um maior controle, em tempo real, sobre o estado de cada paciente, o aparelho também possibilita a comparação de dados com outros casos. Todos os dados ainda serão enviados automaticamente ao sistema da central médica, via wi-fi ou bluetooth, ou para o aplicativo de qualquer smartphone integrado.
Segundo Carlos Eduardo, da EMBRAPII, o aparelho pode adiantar diagnósticos. ;Existem inúmeras possibilidades do que fazer com os dados captados. Uma delas é ficar monitorando para ver se os sinais saem fora do padrão, antecipar uma parada cardíaca, por exemplo, pela variação dos sinais. Ainda se pode juntar os dados de várias pessoas e comparar, para possivelmente antecipar um diagnóstico;, pontua. Ele assinala que, como a tecnologia é nacional, terá custo mais baixo em comparação aos equipamentos semelhantes do exterior, o que viabilizará a utilização tanto em leitos fora da UTI, quanto em casas, no sistema home-care. O aparelho tem autonomia de quatro dias de funcionamento no corpo do paciente.
A inovação foi desenvolvida pelo Instituto Federal do Ceará (IF-CE), unidade credenciada EMBRAPII, e ainda não existe previsão para sua comercialização em todo o Brasil, já que se encontra em fase de testes. ;Esse tipo de equipamento é ótimo para ser aplicado na assistência em saúde, nas questões assistenciais, que tem suas necessidades e aplicações. Na rede assistencial, existem muitos casos de quedas de pacientes, questões relacionadas ao trabalho de enfermagem para os pacientes. O projeto seria de grande eficiência para prevenir alguma complicação;, comenta Emmanuel Lacerda, gerente-executivo de saúde e segurança do Serviço Social da Indústria (Sesi).
Consultório portátil
Segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), metade da população mundial reside em áreas rurais e remotas, enquanto que maioria dos profissionais da saúde vive e trabalha em grandes cidades. O projeto de consultório odontológico portátil, desenvolvido pela Lactec e com apoio da empresa D-Express, vem justamente para levar os cuidados e tratamentos bucais a todos pacientes que não possuem condições de se locomover até alguma clínica, ou com dificuldades motoras, como idosos, pacientes com Alzheimer, Parkinson, AVC, moradores de tribos indígenas e de comunidades ribeirinhas.
Fanny Jitomirski, diretora da D-Express, é uma das idealizadoras do projeto e esclarece que o produto já foi amplamente testado em algumas comunidades, inclusive na aldeia indígena de Guaviraty. Atualmente, está em fase de regulação, mas deve chegar ao mercado em cerca de 90 dias, segundo Fanny. ;É um consultório que traz grandes inovações para o mercado, pelo fato de que ele não utiliza compressor de ar, e o reservatório dele é composto apenas por uma garrafa PET. Nisso, o profissional leva esse consultório para onde quiser, liga em uma tomada, e tem todos equipamentos odontológicos que o profissional pode precisar para um tratamento;, afirma.
A diretora da D-Express ainda ressalta que o cunho da inovação é completamente social. ;Não é nosso objetivo que um executivo da paulista venha a ser atendido e fazer uma limpeza para que ele não tenha que se locomover até um escritório dentário. A preferência é para prefeituras que necessitam disso e para pessoas que cuidam da saúde indígena, dos idosos e dos mais incapacitados;, explica.
Ressonância magnética à distância
Ainda para atender a demanda de pacientes que moram distante de grandes centros urbanos, o que limita o acesso a exames de ressonância magnética com médicos especialistas na área, a EMBRAPII apoiou o desenvolvimento do Virtual Operations Center, tecnologia para comando remoto de aparelhos de ressonância e tomografia computadorizada. O projeto foi desenvolvido pela Unidade EMBRAPII de Sistemas Inteligentes, Fundação CERTI, e a Siemens Healthineers.
Jorge Guimarães, diretor-presidente da EMBRAPII, explica que a tecnologia se trata de ;uma demanda de inovação típica da indústria brasileira;. ;Na Alemanha, a Siemens não investiria em um projeto de inovação semelhante, mas no Brasil, pela própria dimensão do país, enxergou em um obstáculo, uma oportunidade para inovar;, diz. Na inovação, técnicos responsáveis pelos laudos acompanham todas etapas dos exames, através de um software, sensores, câmeras e microfones, tudo enquanto se comunica com o paciente e o auxiliar técnico operando o equipamento. Além do mais, os técnicos podem operar até 3 máquinas ao mesmo tempo, e assim, atender mais de um paciente por vez. O produto já é comercializado no Brasil e atualmente está sendo exportado para Estados Unidos, Alemanha, China e Índia.
Suporte para cirurgias oncológicas e cardíacas
Desenvolvido pela unidade credenciada Instituto Eldorado, em parceria com a empresa Braile Biomédica, o equipamento que suporta cirurgias oncológicas e cardíacas deve chegar a indústria no início de 2020. Trata-se de um aparelho com funcionalidade dupla que oferece maior controle de monitoramento em cardioplegia, procedimento realizado em cirurgia cardíaca, e quimioterapia hipertermica intraperitoneal (HIPEC), tipo de tratamento específico para a região abdominal, durante cirurgia oncológica.
O gerente de P do Instituto Eldorado, Guilherme Fonseca, chama atenção para a nutrição do coração que o aparelho pode proporcionar durante cirurgias. "Uma das funções do aparelho é nutrir e manter o coração parado. Isso é importante porque em alguns procedimentos cardíacos, o coração é retirado da circulação e para de receber sangue;, explica.
O segundo uso do equipamento é para cirurgias oncológicas. ;Após a retirada dos tumores na região do abdômen, é passado um quimioterápico aquecido no interior do paciente que elimina células cancerígenas que ainda estão dentro do abdômen. Uma vez que teremos mais parâmetros sendo monitorados, o profissional que faz esse processo vai conseguir ter uma maior eficácia no tratamento. Assim, você consegue aumentar a sobrevida dos pacientes;, destaca Guilherme.
Segundo Fernando Oliveira, responsável pelo projeto na Braile Biomédica, a tecnologia é pioneira no Brasil e trará maior eficiência, aprimorando os procedimentos médicos e a custos mais baixos, já que conta com produção 100% nacional.
Emmanuel Lacerda, gerente-executivo de saúde e segurança do Serviço Social da Indústria (Sesi), está positivo em relação ao projeto. ;Essas tecnologias são voltadas para a assistência de saúde que trazem atributos de valor, como a redução de custos, ligada a uma boa qualidade da assistência de saúde, pois evita que o paciente reincida, evita que a cirurgia seja malsucedida e o paciente tenha que voltar para refazer".
No entanto, Emmanuel ressalta a importância de que todas novas tecnologias sejam constantemente monitoradas durante seu funcionamento. ;Deve-se acompanhar o real desfecho disso e o impacto no setor da saúde e assistencialismo de saúde. Tem que ocorrer um monitoramento prático e real de como essa tecnologia vai performar no sistema, senão, pode trazer riscos;, destaca.
* Estagiária sob supervisão de Roberto Fonseca.