"Todos vocês sabem que tenho uma posição muito clara quanto à ideologia de gênero", afirmou, em audiência da Comissão de Seguridade Social e Família, na Câmara dos Deputados. "Nós não estamos brigando contra a igualdade de salário entre homens e mulheres. Por que eu fui pra esse debate da ideologia de gênero? Porque os médicos me provocaram. Porque são os médicos, os pediatras que estão preocupados com quando você diz pra uma criança que ela tem 70 identidades de gênero pra escolher."
A ministra disse que a "teoria de gênero", como também denominou a perspectiva de gênero, deve ter, em primeiro lugar, a chancela de pesquisadores, para que possa se tornar, de fato, uma pauta. "Mulher pode deixar de ser mulher? Homem pode deixar de ser homem? Essa discussão foi muito ruim da forma como foi apresentada. Uma teoria que ainda estava na academia e que foi trazida para as crianças sem nenhum preparo", declarou.
"Temos que abordar, se a academia decidir que sim, que é cientificamente comprovado isso. Se for cientificamente comprovado, teremos que abordar", emendou, acrescentando ser a favor do combate à discriminação.
Campanha e pesquisa
A perspectiva de gênero tem sua legitimidade amplamente reconhecida por entidades e especialistas de renome, como a Organização das Nações Unidas (ONU). O organismo possui, inclusive, uma campanha de âmbito global, chamada Livres & Iguais, que visa esclarecer sobre termos como identidade de gênero e orientação sexual, além de fazer frente à intolerância contra grupos específicos, como os LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e intersexuais).
Em entrevista à Agência Brasil, concedida em fevereiro deste ano, a então representante da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman, defendeu que a perspectiva de gênero é a principal ferramenta que permite um entendimento completo sobre a violência contra a mulher e, portanto, a que mais contribui para que haja efetividade no enfrentamento desse tipo de crime.
O Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), mostra que há, em instituições de ensino superior de todo o país, inúmeros grupos e linhas de pesquisa que examinam a perspectiva de gênero, sob diversos ângulos. Somente quando se buscam aqueles que têm associação com as palavras "gênero mulher", aparecem, no sistema do CNPq, 103 grupos de pesquisa.
Falta de clareza
Um estudo da Universidade de Brasília (UnB), divulgado em novembro do ano passado, concluiu que há um elevado nível de desinformação de médicos quando o assunto é homossexualidade. De acordo com a pesquisa, os profissionais acertaram, em média, 65% das perguntas que lhes foram feitas sobre o assunto. Do total de entrevistados, 34,4% não souberam responder se a homossexualidade é uma doença e 4,9% responderam afirmativamente.