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Chacina de Paracatu foi premeditada

Polícia conclui que responsável pelo massacre na cidade mineira, em 21 de maio, agiu de forma consciente e planejou os assassinatos, inclusive o da ex-namorada. Segundo as investigações, motivo foi desavença com pastor de igreja evangélica



Preso de maneira preventiva no Complexo Penitenciário Nossa Senhora do Carmo, em Carmo do Paranaíba (MG), o segurança Rudson Aragão Guimarães, 39 anos, responsável pela chacina no município mineiro de Paracatu, há 11 dias, foi autuado pela Polícia Civil do estado por quatro homicídios duplamente qualificados ; por motivação torpe e impossibilidade de resistência das vítimas ;, e por uma tentativa de homicídio com as mesmas qualificadoras. A corporação concluiu ontem as investigações do massacre e constatou que Rudson planejou a tragédia (leia Memória).

;Ele não teve nenhum tipo de surto psicótico, pelo contrário. Durante as diligências, chegamos à informação de que ele teria premeditado o crime. Na noite do fato, ele tinha total noção da realidade enquanto executava os delitos, e demonstrou muita capacidade e determinação para os atos criminosos;, declarou a delegada de Homicídios da 2; Delegacia Regional de Paracatu, Thays Regina Silva.

Se condenado à pena máxima pelos cinco crimes, Rudson pode receber sentença de até 150 anos. Apesar da brutalidade dos atos, o assassino disse à polícia que não se recorda de nada do que aconteceu na noite da tragédia, quando matou, com um golpe de canivete no pescoço, a ex-namorada Heloísa Vieira Andrade, 59; e, a tiros, os fiéis Antônio Rama, 67, Rosângela Albernaz, 50, e Marilene Martins de Melo Neves, 52, dentro da Igreja Batista Shalom. ;Durante o interrogatório, ele não prestou esclarecimentos sobre os delitos e limitou-se a dizer que não se lembrava do que ocorreu;, frisou Thays Regina.

O assassino foi transferido para o presídio a cerca de 250 km de Paracatu há oito dias, quando teve a prisão preventiva decretada pela Vara de Feitos Criminais e da Infância e da Juventude de Paracatu. Na decisão, o juiz José Rubens Borges Matos afirmou que ;a periculosidade concreta do flagranteado impõe a manutenção do cárcere como medida de salvaguardar a ordem pública;. ;Pesaram para a decisão a necessidade da instrução criminal, pois a resposta do acusado aos agentes policiais, a análise dos seus antecedentes e a execução dos crimes indicam que ele poderia voltar a delinquir;, detalhou o magistrado.

Revolta

A Polícia Civil confirmou que a motivação para as ações de Rudson foi o atrito entre ele e o pastor da Igreja Batista Shalom, Evandro Rama, 37. Há dois meses, o assassino perdeu um cargo de liderança no templo religioso e foi afastado da igreja pelo pastor. Na noite do massacre, Evandro era o principal alvo de Rudson, mas conseguiu escapar da fúria do segurança.

;Após o afastamento, Rudson passou a atribuir posturas inidôneas ao pastor Evandro, principalmente com mensagens em grupos de Whatsapp compostos por integrantes da igreja. Como os demais participantes do grupo não apoiavam as ações do Rudson, ele foi excluído. Isso lhe causou ira, tanto que, na noite do massacre, ele se dirigiu não só ao pastor, mas a todo o grupo da igreja ao qual participava;, explicou a delegada.

O assassinato de Heloísa também foi influenciado pela desavença de Rudson com a igreja. Segundo a delegada, ele não gostou de ver que ex-companheira continuava frequentando o templo religioso mesmo após o seu afastamento. ;O homicídio de Heloísa não foi causado por motivos passionais. Ela era bastante atuante na comunidade religiosa, o que pode ter potencializado a raiva do autor dos crimes;. Rudson e Heloísa namoraram por cerca de sete meses. ;Heloísa gostava muito dele, de fato. Era carinhosa e afetuosa. A todo momento queria ajudá-lo. Infelizmente, foi vítima de uma revolta;, acrescentou Thays Regina.

Justiça

Com a conclusão do inquérito policial, parentes das vítimas cobram uma resposta rápida do Poder Judiciário. ;Para mim, a pena deveria ser a mais dura possível. Por conta do que ele (Rudson) fez, a minha vida nunca mais será a mesma. O coração dói todos os dias, e a vontade de chorar é sempre grande;, lamentou a cozinheira Maria Aparecida Loures, 57, viúva de Antônio Rama e mãe do pastor Evandro.

Maria Aparecida disse que o filho dela segue internado no Hospital Regional de Paracatu, recuperando-se de uma cirurgia ; durante a fuga de Rudson, Evandro pulou um muro e fraturou o tornozelo esquerdo. ;O pior nem é a dor física. O que entristece é que Evandro não superou o que aconteceu. Ele ainda sente muito e quase não fala. Mas, diariamente, o visito no hospital para levar um pouco de força. Apesar de tudo, temos de seguir em frente;, comentou.

O trauma também é grande para o autônomo Renato Martins, 45, que perdeu a prima Marilene. ;Está sendo difícil e continuará assim por muito tempo. Perdi uma pessoa que tinha como irmã. Dentro da família, ninguém acredita. Todos estão transtornados;, desabafou. ;Não sabemos como levar a vida adiante desde essa tragédia. Mas vamos nos apegar na justiça divina, a única que não falha;, completou Renato.

Memória

Na noite de 21 de maio, Rudson Aragão Guimarães, 39, cometeu uma barbárie no bairro Bela Vista, em Paracatu. Primeiro, foi à casa da irmã, onde tirou a vida da ex-namorada Heloísa Vieira Andrade, 59, com golpes de canivete no pescoço dela ; a mulher rezava junto à família do assassino na hora do ataque. E, seguida, foi até a Igreja Batista Shalom e atirou na cabeça de três fiéis com uma garrucha calibre 36. Antônio Rama, 67, Rosângela Albernaz, 50, e Marilene Martins de Melo Neves, 52, morreram na hora. A tragédia poderia ter sido maior, pois outras 17 pessoas estavam no local e o homicida ainda tinha seis munições intactas. Policiais militares que faziam patrulhamento nas redondezas do prédio alvejaram Rudson, cessando a ação criminosa.