Pela segunda vez, estudantes e professores tomaram as ruas ontem para protestar contra o contingenciamento de recursos na educação. Até por volta das 20h, haviam sido registrados protestos em, pelo menos, 126 cidades de 25 estados e do DF. Em Brasília, estudantes, professores e sindicalistas, se concentraram em frente ao Museu da República e se dirigiram, em passeata, até o Congresso Nacional. A Polícia Militar do DF contabilizou, até as 11h, cerca de 1,5 mil manifestantes, mas não houve contagem final. Segundo a União Nacional dos Estudantes (UNE), o ato reuniu 30 mil pessoas.
À noite, ocorreram manifestações em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte. Em São Paulo, a concentração foi no Largo da Batata, no bairro de Pinheiros. Em seguida, o grupo seguiu em passeata pela Avenida Rebouças em direção à Avenida Paulista. No Rio, os manifestantes seguiram da Igreja da Candelária rumo à Cinelândia, caminhando pela avenida Rio Branco. Milhares de pessoas participaram.
Em Belo Horizonte, estudantes, professores e servidores públicos se reuniram no Centro. Em Curitiba, os manifestantes recolocaram a faixa com os dizeres ;em defesa da Educação; na fachada do prédio da Universidade Federal do Paraná, na Praça Santos Andrade. A faixa havia sido retirada por manifestantes pró-Bolsonaro, em ato realizado no último domingo. Em Pernambuco, estudantes, professores e servidores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) realizaram um ;abraço simbólico; ao prédio da instituição, no bairro de Dois Irmãos.
Embora abrangentes, as manifestações de ontem foram em menor número que as ocorridas em 15 de maio, quando foram registrados atos em 158 cidades de todos os 27 estados e no DF. Em Brasília, o mote também foi contra a gestão do presidente Jair Bolsonaro (PSL), a reforma da Previdência e as medidas do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).
Empunhando cartazes e faixas, os participantes entoaram gritos e seguiram pela Esplanada dos Ministérios até o espaço em frente ao Congresso. Por falta de autorização prévia, os carros de som não acompanharam o trajeto.Três faixas do Eixo Monumental foram bloqueadas enquanto os manifestantes caminhavam e foram liberadas pouco mais de uma hora e meia depois. A Polícia Militar acompanhou a manifestação de perto, revistou os participantes e solicitou que retirassem panos dos rostos.
Um boneco com o rosto do presidente Bolsonaro foi queimado quando a manifestação chegou em frente ao MEC, que estava protegido pela Força Nacional de Segurança Pública. Durante o trajeto, houve um princípio de tumulto entre policiais militares e manifestantes que saíram da área reservada ao protesto. A corporação usou spray de pimenta contra o grupo, e um homem foi detido por desacato. Em seguida, os participantes seguiram para a Rodoviária do Plano Piloto, onde continuaram o ato com gritos de guerra e provocações ao presidente Jair Bolsonaro. O ato se encerrou por volta das 14h.
Estudante de psicologia da UnB e militante do Juntos pela Educação, Bruno Zaidan, 25 anos, ressaltou que o ato faz parte de uma agenda de sucessivas manifestações. ;É uma jornada de lutas. Fizemos também o ato no dia 15. É possível vencermos essa batalha. A sociedade está contra o desmonte da educação. Essa é a segunda fase de muitas. O ministro que colocaram não tem qualificação. A única preocupação é promover uma guerra ideológica nas universidades. Não vamos deixar. Queremos estudar, pesquisar, construir o conhecimento e não daremos um dia de descanso para o governo;, afirmou.
Ronei Delfino da Fonseca, 38 anos, técnico administrativo e estudante da UnB, foi um dos prejudicados com o corte de bolsas de pós-graduação pela Capes anunciado pelo governo. Ele havia sido selecionado para um doutorado em sistema mecatrônico. Agora, avalia se poderá continuar a estudar. ;Temos que mostrar para o governo que a educação tem que ser prioridade. Para a área da pesquisa, esses cortes são muito ruins. Acaba jogando no lixo tudo o que já foi feito. Pesquisa precisa de início, meio e fim. Com o que está acontecendo, muitos desistem de investir nisso;, avaliou.
Além de lideranças de entidades como a UNE, União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Movimento Juntos Pela Educação e Associação dos Acadêmicos Indígenas da UnB, também participaram do ato centrais sindicais e políticos, como o deputado distrital Fábio Felix (PSol), as deputadas federais Tabata Amaral (PDT-SP), e Erika Kokay (PT-DF) e a presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR). Uma nova manifestação contra o bloqueio de verbas da educação está marcada para 14 de junho.
*Estagiárias sob supervisão de Odail Figiueiredo
Sem ;Lula livre;
A manifestação contra os cortes na Educação, a reforma da Previdência e o governo Jair Bolsonaro realizada em São Paulo reuniu menos gente que a anterior, no dia 15, não contou com a participação formal dos partidos de oposição e evitou os motes ;Fora, Bolsonaro; e ;Lula livre;. O ato foi convocado pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes). ;Não queremos briga de torcida;, disse a presidente da UNE, Marianna Dias. Segundo ela, o mote ;Fora, Bolsonaro;, por ora, está fora de cogitação e o ;Lula livre; não foi o centro da manifestação.