Cirurgia inédita no Centro-oeste e ainda rara no Brasil, foi realizada ontem em Brasília. O procedimento tem o objetivo de tratar da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), mal que acomete aproximadamente 20% da população. A técnica consiste na implantação de um dispositivo semelhante a um marcapasso que, por meio de dois eletrodos, envia impulsos elétricos para o esfíncter inferior do esôfago, músculo localizado na transição para o estômago, com o objetivo de tonificá-lo e normalizar suas funções. Os dispositivos são instalados sob a pele do abdome. O procedimento é pouco invasivo, já que é feito por laparoscopia.
O refluxo ocorre quando o conteúdo do estômago ; que é ácido ; volta para o esôfago em quantidade acima do normal. Quando passa a ser frequente, gera problemas como azia, regurgitação, dores torácicas e até manifestações inflamatórias.
O procedimento foi realizado no hospital Santa Helena, sem nenhuma complicação. O médico gastroenterologista Júlio Veloso, que participou da cirurgia, explica que, apesar de pouco invasiva, ela não é recomendada para todos os casos: ;É indicada apenas para os casos mais graves, em que o tratamento clínico não surte efeito e a qualidade de vida do paciente está prejudicada. Existem critérios específicos para que o paciente se enquadre;.
A cirurgia é nova, mas já é bastante realizada na Europa e em alguns países da América do Sul. No Brasil, ainda é pouco frequente. Ela permite que o paciente se desvincule de tratamentos medicamentosos, que, em alguns casos, não são eficientes e podem gerar efeitos colaterais. Os medicamentos geralmente utilizados reduzem a acidez do estômago, e não o real problema da doença, que é a deficiência do músculo do esfíncter inferior do esôfago.
O procedimento consiste na implantação de dois eletrodos no final do esôfago, que ficam ligados a um marcapasso subcutâneo no abdome. ;O marcapasso é como se fosse um gerador, que pode ser programado por telemetria e controla a frequência e o tempo das contrações no músculo do esôfago. Com o tempo, ele vai se hipertrofiando e recuperando sua função de barreira;, explica Veloso.
De acordo com o médico, a operação durou cerca de duas horas e o paciente provavelmente terá alta hoje. Além de Júlio Veloso, participaram da cirurgia o médico cirurgião Marcelo Barros e o médico cirurgião argentino Alex Nieponice, especialista na técnica.
Ondas magnéticas
No momento da alta, o paciente recebe um guia nutricional para ser seguido ao longo do primeiro mês pós-operatório, que permite que ele gradualmente retorne a uma dieta normal. Por ser um procedimento minimamente invasivo, requer doses muito baixas de analgésicos.
Como a bateria do dispositivo é incorporada, grandes ondas magnéticas podem interferir no funcionamento normal do dispositivo. Para evitar inconvenientes, os pacientes recebem um certificado que os autoriza a não passar por detectores de metais em aeroportos.
* Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo