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De 500 mil a 1 milhão de espécies estão ameaçadas de extinção, diz estudo

'É uma evidência agora irrefutável da queda de biodiversidade do planeta', diz um dos coordenadores do relatório

Com base em cerca de 15 mil artigos científicos, a Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (Ipbes) divulgou que de 500 mil a 1 milhão de espécies estão ameaçadas de extinção no planeta. O levantamento integra o Relatório de Avaliação Global do Ipbes sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, lançado nesta segunda-feira (6/5), em Paris. "É uma evidência agora irrefutável da queda de biodiversidade do planeta", diz Eduardo Brondizio, um dos coordenadores do relatório e professor de Antropologia da Universidade de Indiana. "A nível global, nossos impactos se acumulam em uma escala sem precedentes."

O relatório foi elaborado por 145 especialistas de 50 países, além de outros 310 colaboradores. "Pela primeira vez, a gente tem uma fotografia do processo de mudança ambiental do planeta", diz Brondizio. "Estão descobrindo que o planeta é pequeno, mas ainda tratando o planeta como de recursos infinitos."

Segundo ele, o impacto na biodiversidade se deve a quatro fatores principais: uso da terra e do mar, mudanças climáticas, poluição e espécies invasoras. "Conseguimos dessa maneira assegurar base sólida de evidências, que confirmam algumas prerrogativas."

O relatório também destaca que as áreas manejadas, ocupadas ou de propriedade de povos indígenas são as que apresentam a menor perda de biodiversidade. "São regiões em que encontramos 35% das áreas mais preservadas do planeta. Ainda se tem a ideia que são populações pequenas, que não têm diferença na economia e na conservação geral. Mas é o contrário: têm salvaguardado grande parte da natureza."

Ele cita como exemplo o caso de alguns povos amazônicos. "As populações indígenas mostram habilidades para conservar a floresta, enquanto tudo ao redor se transforma em monocultura ou pastagem. Mas isso tem limite: estão se formando ilhas de diversidade, e isso não é sustentável. Mesmo bem-sucedidos em conservar seus territórios, estão pressionados."

"O que a nossa análise mostra, tanto do passado quanto dos possíveis cenários, é que nós precisamos de mudanças significativas em programas de governo", ressalta o pesquisador. "O declínio da natureza está exacerbado."

Soluções

O professor observa que a população mais pobre está vulnerável. E cita, por exemplo, Manaus e Belém, cidades da região amazônica. "Inundações têm virado quase rotina, com impacto na saúde, na economia." Para Brondizio, o primeiro passo para mudar essa situação é agir em "nível local", como no manejo de bacias hidrográficas, no desenvolvimento do saneamento básico e na limitação da emissão de poluentes.

Ele cita como bons exemplos o manejo de lagos e rios na Amazônica e o aumento de certificações de pesca e florestais, além dos avanços em alimentos orgânicos.