É preciso utilizar uma lanterna para entrar no Cine Marrocos, hoje coberto de poeira e com infiltrações e goteiras. A fiação não fornece mais eletricidade, enquanto pichações e roupas indicam o período em que foi ocupado por sem-teto. No chão, buracos em espirais e outras formas indicam a retirada de ornamentos. Na parte de projeção, apenas o segundo mezanino mantém as antigas poltronas vermelhas, também danificadas.
Da rua, os tapumes, os portões e uma parede de tijolos escondem o que já foi um dos mais luxuosos cinemas de São Paulo. No auge, mantinha porteiros de luvas brancas para receber as celebridades e os nomes da alta sociedade que atravessavam o salão de cor carmim e decoração mourisca. Hoje, passa por um processo de emparedamento para evitar novas invasões.
Remanescente da antiga Cinelândia Paulista, o Marrocos voltou a ser alvo de discussões sobre uma possível reabertura após ser desapropriado em 2010, ao custo de R$ 46,4 milhões, segundo a Prefeitura. Ao longo dos anos, foi alvo de planos - de virar posto de saúde a teatro -, mas nada andou.
"O Marrocos era um luxo, a sala de espera tinha uma poltrona onde se colocava o cigarro na vertical", lembra Máximo Barro, montador cinematográfico e diretor da cinemateca da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). Hoje, a gestão Bruno Covas (PSDB) tem o objetivo de utilizar o espaço, que inclui um prédio de 12 andares, como sede da Secretaria Municipal da Educação (SME). Está em estudo a possibilidade de uma parceria público-privada para viabilizar a reforma do edifício e a transferência da administração, diz a SME.
Além do Marrocos, a Prefeitura também tem a posse do Art-Palácio, localizado na Avenida São João, em frente ao Largo do Paiçandu, datado de 1936. O valor da desapropriação, de 2012, foi de R$ 7,1 milhões, de acordo com a Secretaria Municipal de Cultura, que mantém um contrato de vigilância do local ao custo mensal de R$ 24,6 mil.
O cinema originalmente tinha 3 mil poltronas e era um dos mais populares da Cinelândia Paulista, onde os filmes de Amácio Mazzaropi eram lançados. Assim como o Ipiranga, tem projeto do Rino Levi e, nos anos derradeiros, chegou a exibir produções pornográficas. "Foi o primeiro cinema moderno de São Paulo. De qualquer lugar, você via a tela e ouvia o som. Naquela época, os cinemas tinham mais de 2 mil lugares e viviam lotados", conta Máximo Barro, que trabalhou em produções de Mazzaropi.
Prefeitura.
O jornal O Estado de S. Paulo procurou a Prefeitura de São Paulo e solicitou entrevistas para discutir os planos para os dois cinemas - ambos tombados em nível municipal desde 1992. Sobre o Art Palácio, a nota oficial ressalta que o imóvel funcionou até 2012, ano em que ocorreu a desapropriação. Na gestão João Doria (PSDB) estava incluído no Plano de Metas para virar uma escola de grafite. "Futuramente, o espaço deverá ter uso multidisciplinar, com várias atividades relacionadas à cultura, tais como teatro, literatura e cursos. A SMC busca parceiros para restaurar o prédio. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.