[VIDEO1]Um vídeo que circula pela internet com um guarda municipal de Ouro Preto, na Região Central do estado, pisoteando um tapete de serragem em homenagem à vereadora assassinada do Rio de Janeiro, Marielle Franco (PSOL) está gerando bastante polêmica, especialmente nas redes sociais.
Nas imagens, o guarda civil aparece desmanchando o rosto feito com serragem, sob protestos de várias pessoas que estão em volta e gritam "Marielle vive". No Twitter, o assunto entrou na lista dos trending topics da ferramenta, com mais de 10 mil menções ao tema.
A Prefeitura de Ouro Preto confirmou que o vídeo foi gravado na madrugada deste domingo de Páscoa, quando os tapetes são exibidos na cidade histórica como parte das celebrações da semana santa. A Guarda Municipal de Ouro Preto publicou uma mensagem em sua conta no Instagram em que defende a atuação do guarda.
"O Comando da Guarda Civil Municipal vem publicamente agradecer a todos que contribuíram direta e indiretamente para a gloriosa semana santa de Ouro Preto, em especial aos guardas, policiais que bravamente mantiveram a ordem do princiípio ao fim. Quanto ao episódio onde os agentes municipais desmancham desenhos de cunho político, entre outros, que nenhuma relação possuem com os ;tapetes devocionais;, informamos que a liberdade de expressão não é absoluta ainda mais quando outros direitos estão sendo afetados. O recado já foi dado em 2018, em 2019 não foi diferente. Respeitem Ouro Preto, nossa tradições", diz o texto, que pode ser conferido na imagem abaixo. O perfil da guarda no Instagram está sob responsabilidade do comando da instituição.
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Recomendação
Segundo a Prefeitura de Ouro Preto, houve uma recomendação da Arquidiocese de Mariana para que as pessoas fizessem apenas tapetes com conteúdo devocional e religioso, relacionado à semana santa e suas celebrações, conforme áudio divulgado pelo cônego Luiz Carlos César Ferreira Carneiro e divulgado em rádios locais. "No domingo da ressurreição, ao longo da história de Ouro Preto, então há mais de 300 anos usam-se os tapetes para que a procissão do santíssimo sacramento possa passar. O motivo, logicamente, é devocional. Nós temos de olhar para esses tapetes como um objeto devocional para prestar nossa homenagem a Jesus Cristo", diz o cônego na gravação.
A Prefeitura de Ouro Preto informou que ainda prepara uma nota única sobre o tema mas, em resposta à atuação da Guarda Municipal, adiantou que o "cônego Luiz Carlos César Ferreira Carneiro, do Santuário Nossa Senhora da Conceição, solicitou que apenas tapetes devocionais sejam confeccionados, pois é um momento religioso. Qualquer imagem que não seja devocional é falta de respeito às tradições ouro-pretanas centenárias".
Ainda segundo a prefeitura, também foram "distribuídos panfletos pela cidade e pousadas convidando a todos para a confecção dos tapetes e pedindo que a população e visitantes respeitassem a vontade da Diocese em promover apenas os desenhos com referência à religião católica, para que não precisassem ser apagados".
Nas imagens que foram gravadas, um guarda espalha a serragem do tapete de Marielle, desmanchando o desenho. Em seguida várias pessoas cantam em homenagem à vereadora e um homem repreende o guarda, dizendo que ele não poderia fazer aquilo. Outros dois guardas aparecem na imagem e o trio fica no local em meio dos protestos.
A reportagem do Estado de Minas procurou a Arquidiocese de Mariana e aguarda um posicionamento sobre o fato. Esta reportagem será atualizada assim que o posicionamento for encaminhado.
Marielle e Anderson
A ex-vereadora carioca e seu motorista Anderson Gomes foram assassinados na noite de 14 de março de 2018. Quase um ano depois, em 12 de março de 2019, a Polícia Civil do Rio prendeu o policial reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Elcio Vieira de Queiroz (expulso da corporação).
O Ministério Público do Rio denunciou Ronnie Lessa e Elcio Vieira de Queiroz por homicídio qualificado e por tentativa de homicídio de Fernanda Chaves, uma das assessoras da ex-vereadora que também estava no carro emboscado. Dias depois, o juiz Gustavo Gomes Kalil, da 4; Vara Criminal do Rio de Janeiro, aceitou denúncia do Ministério Público e colocou no banco dos réus os ex-policiais militares.
A Promotoria afirma que Ronnie Lessa efetuou os disparos de arma de fogo. Elcio Queiroz, segundo a investigação, conduziu o veículo usado na execução.
"O denunciado Ronnie Lessa foi o autor direto dos disparos e responsável pelo planejamento da empreitada criminosa, tendo organizado prévia e meticulosamente suas etapas e a forma de agir", afirmou o Ministério Público do Rio na acusação formal apresentada à Justiça em março.
"O denunciado Elcio, amigo e compadre de Ronnie Lessa, concorreu dolosa e eficazmente para o crime, na medida em que foi o condutor do veículo Cobalt, placa clonada KPA 5923, utilizado na empreitada criminosa, sendo certo que o auxiliou moral e materialmente visando ao sucesso do crime, aderindo a todas as circunstâncias."
A reportagem fez contato com a Guarda Municipal e com a Prefeitura de Ouro Preto, mas não obteve respostas. O espaço está aberto para manifestação.
Com informações da Agência Estado