No sermão, o pró-reitor do Santuário, padre Carlos Antônio da Silva, lamentou tragédias como a de Brumadinho e Mariana, causadas pela ;ganância;, e rechaçou a possibilidade de exploração na escosta da Serra da Piedade.
A peregrinação de um grupo de 15 amigos de Sabará começou bem antes: às 22h30 de quinta-feira. Eles saíram do bairro Nossa Senhora de Fátima e foram até a basílica à pé. No caminho de 42 quilômetros, se revezaram para carregar uma cruz de cinco quilos. Ao chegar no topo do santuário, o cansaço deu lugar ao discurso de agradecimento e fé.
;Há sete meses meu sobrinho foi desenganado pelos médicos, que disseram que ele nunca mais andaria. Hoje ele está correndo para todo lado e jogando bola. Eu tinha um nódulo no peito e tive que operar às pressas. Na hora da cirurgia os médicos viram que o nódulo havia sumido. Foram as orações;, comemora o pedreiro Sirlei Luciano de Oliveira, que pela primeira vez fez a caminhada que se tornou uma tradição no grupo, iniciado em 1993.
Quem também só pensou em agradecer foi o engenheiro mecânico Flávio Dutra, que há cinco anos faz questão de participar da cerimônia da sexta-feira santa. Na companhia de outros ciclistas, ele foi até o santuário para agradecer pela saúde do filho e dos sobrinhos gêmeos que nasceram enquanto ele fazia o percurso. ;Cada ano que venho é uma forma de agradecer a Deus pela vida e saúde;, disse.
Ambição e ganância
Terminado o caminho de Cristo até o calvário ; marcado por azulejos instalados para retratar cada uma das estações ;, foi a vez da encenação da Paixão de Cristo na Praça Cardeal Horta, em frente a basílica, pelo grupo teatral Cenarte.
;Rezar a Via Sacra e assistir à morte de Cristo tem um valor no momento presente numa sociedade que tem a cultura da morte, furto da ambição e da ganância. Fazer a Via Sacra é poder caminhar fazendo do silêncio sagrado uma profunda reflexão de nossa vida, rezarmos o luto do mundo;, ponderou padre Carlos.
O religioso fez ainda um discurso contra o que chamou de ;lama da ganância;, em alusão às tragédias envolvendo a Samarco, em Mariana, que deixou 19 pessoas em novembro de 2015, e a Vale, em Brumadinho, em janeiro deste ano, com saldo até agora de 231 mortos e 41 desaparecidos.
;Minas é o estado da mineração, mas é preciso saber onde e como operar. O que não pode é essa sede de poder, essa falta de respeito ao meio ambiente. Temos que defender e cuidar da Serra da Piedade. Mineração aqui, não. Aqui é um solo sagrado para razarmos nossas dores;.
O padre Carlos referia-se a autorização recente do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) para a exploração da encosta da serra pela empresa AVG Empreendimentos Minerários, pertencente ao grupo EBX, de Eike Batista. A mineração da Mina do Brumado começou nos anos 1950 e foi interrompida há 14 anos por decisão judicial. A AVG quer explorar novamente a mina, com a justificativa de recuperar a área degradada. Para isso, segundo a empresa, seria necessário retomar a lavra.