Jornal Correio Braziliense

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Tatuador suspeito de abuso sexual em BH tinha denúncia desde 2008

Suspeito de abuso sexual contra ao menos 15 mulheres em Belo Horizonte, o tatuador Leandro Caldeira Alves Pereira, de 44 anos, havia sido intimado a depor por três vezes pela Polícia Civil antes de ter sua prisão decretada no dia 22 de março. Leandro foi preso no domingo, 31, em Lagoa Santa, na região metropolitana. Segundo as autoridades, o tatuador estava escondido na casa de amigos. A primeira denúncia contra Leandro, que tem um estúdio na Savassi, região de classe média alta da cidade, ocorreu em 2008, conforme a Polícia Civil. À época, porém, esse tipo de crime exigia a realização de queixa formal, o que acabou não sendo feito. As três intimações ao tatuador foram feitas nos últimos 20 dias, depois do início das investigações contra Leandro, que tiveram como base uma conversa iniciada nas redes sociais pela ativista pelos direitos humanos Duda Salabert sobre tatuagens. "Falei que eu preferia buscar profissionais mulheres, e que este é um mercado muito machista, que deveria ser democratizado. Disse ainda que é muito comum relatos de assédios nos estúdios", explicou Duda. A partir deste ponto, segundo a ativista, novos relatos contra Leandro começaram a ser compartilhados. Um total de 15 mulheres, inclusive a que havia feito a denúncia informal em 2008, se juntaram e procuraram com a ativista o Ministério Público e a Polícia Civil. "Não é uma denúncia fácil de se fazer. Expõe a intimidade em um episódio doloroso. E como a estrutura da nossa sociedade é machista, muitas mulheres se questionam, achando que pode ser um exagero, pensando que são culpadas pelo acontecimento", afirma Duda. A prisão do tatuador é preventiva. A investigação é por violação sexual mediante fraude, que tem pena de dois a seis anos de prisão. "As oitivas das vítimas e das testemunhas ouvidas são coerentes e muito semelhantes e, nesses casos em que os crimes são muitas vezes praticados em lugares privados, sem deixar vestígios, a palavra das vítimas tem um poder comprobatório muito grande", afirmou a delegada Larissa Mascotte, titular da Delegacia Especializada de Combate à Violência Sexual. O crime pelo qual o tatuador é investigado se caracteriza quando "o agente pratica conjunção carnal ou ato libidinoso que dificulta a livre manifestação da vítima e utiliza manobras ardilosas para enganar as vítimas", pontuou a delegada. "As vítimas não fizeram o registro antes, não só porque não sabiam que haviam sofrido abuso, mas elas acreditavam que como não tinham muitas provas não havia como formalizar a denúncia. Mas com todos esses relatos reunidos, as vítimas perceberam que o procedimento realizado pelo tatuador não era normal e se sentiram mais fortes para denunciar". Desde setembro de 2018, o registro deste tipo de crime tem investigação iniciada mesmo sem queixa formal da vítima. A reportagem tenta contato com a defesa do tatuador. O telefone do estúdio não tem ligações completadas. Nas redes sociais foi postado no dia 18 de março os seguintes textos: "calúnia é crime". "Venho por meio desta rede social, comunicar a todos os meus cliente (sic), amigos, seguidores e familiares, que repudio de forma veemente todas as criminosas acusações infundadas sobre minha pessoa". "Vou à delegacia de crimes virtuais com meu advogado e instaurarei um boletim de ocorrência, para apurar todas as calunias (sic), injurias (sic) e difamações contra meu nome e informo a todos que invadiram indevidamente minha rede social para criminosamente me acusar sem nenhuma prova, serão responsabilizados criminalmente". A Polícia Civil informou que o registro, até o momento, não foi feito.