Jornal Correio Braziliense

Brasil

Presidente afastado da Vale não descarta negligência em caso Brumadinho

Em CPI, Fábio Schvartsman disse que só existem duas possibilidades para esclarecer a tragédia: ou algo imprevisto aconteceu ou houve negligência com relação aos riscos de rompimento da barragem


O presidente afastado da Vale, Fábio Schvartsman, não descartou a possibilidade de funcionários da mineradora terem negligenciado os riscos de rompimento da barragem B1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho. O depoimento foi feito, nesta quinta-feira (28/3), na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado que investiga a tragédia. Em 25 de janeiro, a estrutura entrou se rompeu, deixando mais de 300 mortos.

De acordo com o executivo, só existem duas possibilidades para esclarecer o que houve. ;Ou aconteceu algo que não estava previsto ; que é diferente de tudo que se monitora, tudo que se olha ; e que derrubou aquela barragem ou houve informação pelos sistemas, aconteceram leituras que mostravam problemas e essas leituras, por qualquer motivo, não foram levadas à sério e não foram transmitidas para os demais escalões da Companhia;, disse Schvartsman.

Em fevereiro, durante reunião da comissão externa da Câmara dos Deputados que apura a situação de barragens no Brasil, Schvartsman foi muito criticado por ter declarado que a Vale "é uma jóia brasileira" e não poderia ser condenada por um acidente ocorrido em uma de suas barragens, "por maior que tenha sido a tragédia.;

Nesta quinta-feira, no Senado, ele reconheceu que, à época, foi extremamente infeliz na declaração e disse que a companhia deve, sim, ser responsabilizada pela tragédia em Brumadinho.
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Risco e responsabilidade

Questionado por senadores sobre o risco de rompimento de outras barragens, Schvartsman disse que, como está afastado da Vale, não tem informações atualizadas. ;Enquanto eu estava na companhia, todas essas barragens tinham laudo de estabilidade. Consequentemente, acreditava-se que todas estavam em boas condições;, afirmou.

Ao citar os nomes de diretores da mineradora, como Peter Poppinga e Lúcio Flavo Gallon Cavalli, que atuaram em Brumadinho e perguntado se seria deles a responsabilidade por não terem evitado a tragédia, Schavartsman afirmou: ;o fato de eu ser presidente [da Vale à época] não me faz onisciente. Eu não sei quem, nem por que, alguém mentiria em relação a um assunto tão importante. São 150 gerentes executivos dentro da companhia. Pessoas que trabalham dentro de responsabilidades muito importantes;, ressaltou.

Na próxima quarta-feira (3/3) a CPI volta se reunir para ouvir os consultores da empresa alemã Tüv Süd, Makoto Namba e André Yum Yassuda; da Vale, Alexandre de Paula Campanha; e Ana Lúcia Yoda, da Tractebel, responsáveis por atestar a segurança da barragem de Brumadinho.

Requerimentos

Além de ouvir o ex-presidente da Vale, a CPI aprovou 18 requerimentos de autoria do relator da CPI, senador Carlos Viana (PSD-MG), sendo duas convocações e 16 convites. Entre os convocados para prestar informações estão o diretor-geral da Agência Nacional de Mineração, Victor Hugo Froner Bicca, e o secretário de Meio Ambiente de Minas Gerais Germano Luís Gomes Vieira. A data das audiências ainda não foi definida.

O colegiado também quer ouvir o promotor de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais Guilherme de Sá Meneghin, que atuou no caso do rompimento da barragem em Mariana, e uma moradora de Brumadinho, Carolina de Moura Campos, que representará a sociedade civil.

*Estagiário sob supervisão da subeditora Ellen Cristie