Hellen Leite
postado em 19/03/2019 17:08
Muito diferente das gerações passadas, as crianças e adolescentes da chamada geração Alpha (nascidas a partir de 2010), não conheceram o mundo sem a Internet e cada vez mais cedo dominam os dispositivos eletrônicos. No entanto, o que parece inofensivo, pode trazer perigos reais para os pequenos. No Youtube, vídeos de brincadeiras tornaram-se alvos de crackers que interrompem a programação com o personagem Momo e ensinam, literalmente, o passo a passo para crianças cortarem os pulsos e cometerem suicídio.
As aparições do Momo em vídeos infantis chegaram ao conhecimento da professora e produtora de conteúdo, Juliana Tedeschi Hodar, 41 anos, de Campinas (SP). Ela recebeu um alerta sobre o vídeo em um grupo de família no WhatsApp e resolveu alertar os filhos sobre o assunto. Juliana conta que sua filha mais nova, de 8 anos, começou a chorar compulsivamente a ouvir falar do Momo e revelou que conhecia o personagem e que já tinha visto um vídeo, mesmo navegando apenas no modo restrito para crianças.
[SAIBAMAIS]"Minha filha caiu num choro compulsivo, desesperado, ficou mais de uma hora chorando. Ela já sabia do personagem e tinha medo até de falar conosco sobre o assunto, por que o Momo ameaça pegar os pais caso a criança conte sobre os vídeos, ela tinha medo", conta.
Para avisar outros pais dos perigos da internet, Juliana fez um alerta sobre a boneca Momo em sua página no Facebook, "o negócio viralizou com tantos compartilhamentos e fiquei sabendo de outras mães que também viram em vídeos até do Baby Shark". O aviso tem mais de 1,3 mil compartilhamentos desde o dia 14 de março.
Por causa da repercussão, ela iniciou uma campanha chamada "Converse com o seu filho". "É um alerta para que os pais olhem nos olhos dos filhos e conversem com eles. É muito importante, eu só soube da Momo por que perguntei, então a mensagem que fica é essa, converse com seu filho", alerta.
Os vídeos também apareceram para o filho da servidora pública Halla Cristina, de Rondônia. Ela também fez um alerta aos pais. "Quase perdi meu filho. Tem um jogo chamado Momo que está influenciando muitas crianças a fazer coisa errada. Meu filho estava na sala assistindo a um vídeo que o ensinava como se matar. Meu filho tem 8 anos. A internet está aí para destruir as pessoas. Eu estou transtornada, ele é meu único filho", declarou. O vídeo de Halla tem 89 mil compartilhamentos na internet.
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"Esse vídeo Momo invade as redes. Eles ensinam as crianças a se matarem, agredir os pais, xingar os pais, desrespeitar os pais. Eu ainda não acompanhei tudo o que ele assistiu, mas ele assistiu a diversos vídeos. Acompanhem seus filhos", comentou.
O fenômeno dos vídeos da boneca Momo em vídeos infantis é mundial. Em fevereiro deste ano, a polícia da Irlanda do Norte publicou um aviso sobre os perigos do personagem e um pedido para que pais supervisionem as atividades dos filhos no WhatsApp. Também há relatos de vídeos com uma estética infantil no YouTube, com imagens da figura assustadora, com instruções para que as crianças se machuquem.
O Correio entrou em contato com o Youtube, mas a empresa não haviase posicionado até a última atualização desta reportagem.
Crianças na Internet
Estima-se que as crianças e adolescentes constituam um terço da população mundial, e um terço dos usuários de Internet do mundo, segundo o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic). Os dados mais recentes do órgão são da pesquisa TIC Kids Online de 2016, e revelam que mais da metade das crianças brasileiras com acesso à Internet usam a rede para assistir a vídeos ou séries. 78% utilizam com freqüência as redes sociais para compartilhar fotos, vídeos e posts.
Em um levantamento mais recente sobre segurança infantil on-line, realizado pelo Instituto DQ em parceira com o Banco Econômico Mundial e divulgado no início de fevereiro, mostrou que 56% das crianças entre 8 e 12 anos estão expostas aos perigos da Internet. O levantamento avaliou o comportamento de 34 mil crianças em idade escolar de 29 países.
A atividade online preferida das crianças (72%) é assistir a vídeos, seguido por ouvir música e fazer buscas (ambos com 51%), jogar videogame (49%) e conversar (38%). Assim, não é surpresa que o site mais popular nesta faixa etária seja o YouTube, a rede mais usada por 54% dos entrevistados. Depois aparecem WhatsApp (45%), Facebook (28%), Instagram (27%) e Snapchat (23%). Facebook e Twitter se mostraram significativamente populares entre crianças de países emergentes.