Jornal Correio Braziliense

Brasil

A vitória nas ruas é de pochete, placa e maquiagem

Apesar de algumas fantasias trabalhadas (e trabalhosas), os foliões preferiram o conforto de camiseta, bermuda e peças leves

O carnaval de blocos de São Paulo descriminalizou a pochete e trocou a fantasia pelos adereços de cabeça e pinturas. O porte do "adereço" foi considerado, pelos foliões, a arma mais eficaz contra o furto de celulares. Além da volta triunfal da pochete, a rua trouxe outras novidades, como as plaquinhas/memes; o fim da dinastia da catuaba; um certo tom político e o crescimento da campanha contra o assédio.

"Não é algo que eu use no meu dia a dia. Acho até cafona, mas no carnaval não tem nada mais eficaz. A gente fica com as mãos livres para pular e o celular fica mais seguro do que no bolso de trás", conta a publicitária Núbia Milaneze, de 25 anos - acompanhada de duas amigas também entusiastas da pochete. E da maquiagem - pois vale a pena passar horas se montando para "acontecer" no bloco. "(A pochete) tem a vantagem de ser uma coisa que dá para compor a fantasia", completa a estudante Jady Paola, de 23 anos.

Até os homens aderiram. "Optei pela segurança, mas ontem tentaram me roubar a pochete também. O segredo é usá-la para dentro da camiseta ou da bermuda", alerta o estudante Pedro de Almeida, de 22 anos.

Apesar de algumas fantasias trabalhadas (e trabalhosas), os foliões preferiram o conforto de camiseta, bermuda e peças leves. Ganharam destaque os adereços de cabeça e pinturas no rosto e no corpo - retocados em caso de chuva, como seu viu. "Não gosto de ter preocupação no carnaval. No calor ou na chuva, a melhor saída é usar pouca coisa. Tudo pelo conforto", comentou a advogada Priscila Amaral, de 30 anos.

Valeu até maquiagem em dupla para provar a amizade. As amigas Caroline Cabral e Larissa Catão fizeram a maquiagem e o cabelo juntas para ir aos blocos da zona oeste. "É uma forma de expressão, um jeito de manifestar o amor ao carnaval", diz Larissa.

Na brincadeira de rua também não faltou quem usasse uma cartolina como plaquinha para passar uma mensagem ou se fantasiar de meme. Entre as frases mais encontradas estavam: "A vida não está fácil, mas eu tô"; "Me pega que eu sou Uber"; "O PT acabou com a minha vida" (referência ao meme conhecido como Barbie fascista) e " prenda-me se for capaz". "É o que mais faz sucesso. Por isso, decidi sair de meme humano", conta o estudante de engenharia Mateus Rodrigues, de 21 anos.

O que se viu pouco nesses dias de bloco de rua foi a famigerada catuaba - trocada por corote colorido (cachaça ou vodca aromatizada) e gim tônica. " O pessoal está sempre querendo algo novo", resume o ambulante Admilson Neto, de 36 anos.

Assédio e política

A campanha contra o assédio no carnaval parece bem-sucedida. No Jegue Elétrico e no MinhoQueens, por exemplo, o recado do "não é não" veio do próprio trio elétrico e muitas garotas levavam na pele o mesmo lema (além de "deixa as mina"). A diferença foi sentida. "Já teve ano que a gente dava dois passos e era agarrada", afirma a arquiteta Camila Milande, 27 anos.

Por fim, a política deu as caras. Houve coros e músicas criticando o ministério, o governo e os filhos do presidente Jair Bolsonaro. E destaque para o assessor de Flavio Bolsonaro, Fabricio Queiroz. "A cor desse carnaval é o laranja. Viva o laranjal", brinca o publicitário Júlio Alvarenga, de 31 anos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.