O segurança particular Davi Ricardo Moreira Amâncio, de 32 anos, acusado de causar a morte de um rapaz de 25 anos dentro de uma unidade do supermercado Extra na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio), na última quinta-feira, 14, reafirmou à Polícia Civil, em depoimento nesta quarta-feira, 20, que o rapaz pegou sua arma e só não atirou porque um outro segurança impediu. O conteúdo do depoimento, que durou cinco horas e meia, foi exposto pelo advogado de Amâncio, André França Barreto.
Segundo Barreto, os quatro depoimentos prestados nesta quarta-feira à Delegacia de Homicídios do Rio, que investiga o caso, confirmaram essa versão segundo a qual Pedro Henrique Gonzaga, de 25 anos, correu em direção ao segurança Amâncio e chegou a pegar sua arma, sendo em seguida imobilizado.
As imagens obtidas até agora pela polícia não mostram a ação descrita pelo advogado - só há registros de Gonzaga de pé parado ao lado do segurança e em seguida caindo ao chão e sendo socorrido e depois imobilizado por Amâncio, que acabou por asfixiá-lo. O advogado admite que não há registros do momento em que, segundo sua versão, Gonzaga ataca o segurança e pega sua arma.
"Por isso os depoimentos de hoje (quarta-feira) foram esclarecedores. As testemunhas confirmaram que o Pedro estava agressivo, entrou em luta corporal com o segurança, pegou a arma e, se não é o outro segurança pegar pelo tambor (da arma), ele (Gonzaga) teria efetuado disparos dentro do estabelecimento comercial", disse o advogado.
Asfixiado, o cliente foi socorrido e levado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Barra da Tijuca, mas morreu após sofrer paradas cardiorrespiratórias. O segurança foi preso em flagrante e já no primeiro depoimento alegou que Gonzaga havia tentado pegar sua arma. O caso foi registrado inicialmente como homicídio culposo (sem intenção) e Amâncio foi libertado após pagar fiança de R$ 10 mil.
Além de Amâncio, prestaram depoimento nesta quarta-feira outro segurança e dois funcionários do supermercado. Todos testemunharam o episódio.
Segundo investigadores que acompanham o caso, a versão apresentada pelo segurança contraria elementos já colhidos pela polícia. Eles afirmam que o conjunto de provas aponta que o segurança foi alertado que estava aplicando uma força desproporcional e assumiu o risco de matar Gonzaga. Por isso, ele pode ser indiciado por homicídio doloso (intencional), que, qualificado pelo uso de asfixia, acarreta pena de 12 a 30 anos de prisão, em caso de condenação. A pena para o homicídio culposo é muito menor: de um a três anos de prisão.
A decisão sobre o tipo de homicídio pelo qual o segurança será acusado só vai ser definido quando o inquérito for concluído. O prazo legal para isso é de 30 dias a contar da data do crime, mas a polícia prevê que vai concluir antes disso.
O delegado Antônio Ricardo Lima Nunes, diretor do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa (DGHPP) do Rio, prevê que, mesmo se Amâncio for indiciado por homicídio doloso, a polícia não vai pedir que a Justiça decrete sua prisão, já que o segurança se apresentou aos policiais após o crime, compareceu para prestar depoimento e, em liberdade, aparentemente não oferece riscos à investigação.
Lesão corporal
Dinalva Santos de Oliveira, mãe de Gonzaga, também esteve na Delegacia de Homicídios nesta quarta-feira. Ela foi formalizar outra denúncia contra o Amâncio. Segundo o advogado de Dinalva, Marcello Ramalho, quando ela tentou intervir na ação do segurança, que mantinha o filho dela imobilizado e com aparente dificuldade para respirar, Amâncio fez um movimento com um braço, para afastá-la. Devido à força desproporcional, ela foi arremessada e machucou o cotovelo esquerdo, descreve o advogado.
Dinalva já havia estado na delegacia na terça-feira quando prestou seu primeiro depoimento sobre o episódio que resultou na morte do filho e narrou esse episódio. Nesta quarta, por volta das 13h30, voltou à unidade policial para oficializar a denúncia de lesão corporal.