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Opinião: HIV? Que HIV?

Faltam nove dias para o carnaval. Porém, a pouco mais de uma semana da festa, não há absolutamente nada sendo veiculado pelo Ministério da Saúde, o que é um perigo sem tamanho

Faltam nove dias para o carnaval. Yupi! E o brasileiro, como a gente bem sabe, é desses, que pira na folia de Momo. Bebe ; muitas vezes em excesso ; e acaba ficando mais solto, desenvolto e, obviamente, irresponsável. Todos os anos, já em janeiro, começam as campanhas de prevenção ao HIV, porque é exatamente no período carnavalesco que o número de infecções pelo vírus dá um salto gigantesco. Esse ano, porém, a pouco mais de uma semana da festa, não há absolutamente nada sendo veiculado pelo Ministério da Saúde, o que é um perigo sem tamanho.

Na home do site do MS há campanhas contra hanseníase, para quem quer parar de fumar, vacinação contra o HPV, mas nada sobre as Infecções Sexualmente Transmissíveis, as chamadas ISTs. O ministro à frente da pasta, Luiz Henrique Mandetta, já deu declarações bem polêmicas sobre o tema. Diz ele que é preciso, sim, combater o vírus da aids, bem como fornecer o tratamento ideal a quem já vive com o HIV.

Mas (sim, há um mas) ;sem ofender as famílias;. Ele é da política de que sexualidade deve ser debatida em casa, com os pais. Nas escolas? Não. Na TV? Hum, melhor não...

Enquanto isso, o número de jovens infectados pelo vírus só cresce. Segundo o Boletim Epidemiológico da Aids, elaborado e divulgado pelo próprio Ministério da Saúde no final do ano passado, as notificações de pacientes entre 15 e 24 anos que contraíram o vírus entre 2007 e 2017 aumentaram, aproximadamente, 700%. Não é um aumento qualquer. É desesperador e especialistas já falam em uma nova epidemia, uma vez que a garotada hoje sexualmente ativa não viveu nas décadas de 1980 e 1990, quando contrair o vírus era sinônimo de sentença de morte. Logo, medo? De quê? É só tomar uns comprimidinhos e pronto...

A importância das campanhas está exatamente aí. Conscientizar os jovens de que é preciso, sim, se precaver. Usar preservativos não apenas como método contraceptivo, mas como uma arma contra a aids, que não tem cara. Não tem gênero. Tampouco classe social. É uma doença que tem, sim, tratamento, mas há uma série de complicações em decorrência dela que podem ser evitadas. Os 700% de aumento no número de notificações entre jovens podem ser atribuídos à quantidade de pessoas que procuraram fazer os exames? Pode. Mas isso não é desculpa para deixar o combate ao lado.

Antes mesmo de assumir a pasta, Mandetta disse que é preciso ter cuidado para não ofender as famílias brasileiras. ;Temos que rever o padrão de comunicação. Essa linguagem claramente não está surtindo efeito;, disse ele, em entrevistas a jornalistas. Se o padrão não estava bom, se era preciso rever o jeito de fazer comunicação, parece que a opção deste governo é pelo silêncio e pela omissão. Mas lembre-se: quem cala consente, senhor ministro. A responsabilidade pela vida dessas pessoas também está nas suas mãos.