Segundo os bombeiros, a quantidade de rejeitos e o estágio de decomposição dos corpos, de agora em diante, vão dificultar a recuperação de restos mortais. A possibilidade de a operação ser encerrada sem o resgate de todos os corpos aumenta a angústia de quem espera pelo menos ter o direito de sepultar familiares e amigos.
;Do ponto de vista técnico, chega um ponto em que essa recuperação não é possível (do total de corpos). É justamente por isso que montamos uma operação desse tamanho, para que a gente consiga recuperar o maior número possível. Mas, pela questão biológica, é possível que alguns corpos não sejam recuperados;, disse o tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros.
Ele explicou que os militares trabalham sempre com a possibilidade de achar alguém com vida, mas em virtude dos protocolos da corporação e da literatura associada a esse tipo de desastre, passadas 120 horas após o evento, e também diante da característica da lama, a probabilidade de encontrar sobreviventes é matematicamente próxima de zero.
;Os bombeiros são verdadeiros heróis, mas vão ficar muitas pessoas enterradas nessa lama. Isso traz uma dor ainda maior para os familiares;, disse Alcir Carlos dos Santos, de 40 anos, que tem dois primos desaparecidos. ;Poder enterrar o familiar é a mesma coisa que retirar mil quilos das costas. Pelo menos a pessoa teve um enterro digno e descansou;, acrescentou ele, que também teve a experiência de enterrar uma ex-mulher, resgatada do mar de rejeitos. ;O problema é você ficar a vida inteira lembrando da pessoa dentro do barro.;
Nessa segunda-feira (4/2), a chuva que caiu pela manhã em Brumadinho dificultou o trabalho dos bombeiros na chamada zona quente, onde se concentram as buscas. No local onde ficava um vestiário na área administrativa da Vale, foram retirados três corpos.
Rio morto
;Um rio completamente morto;. Essa é a constatação sobre a condição do Rio Paraopeba por integrantes de uma expedição da Fundação SOS Mata Atlântica, que percorre o manancial, após a tragédia. A contaminação do rio por metais pesados também foi confirmada por análises feitas pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam). ;A água (do Paraopeba) tem variado entre péssimo ; ou seja, o rio completamente morto ; e ruim, também completamente morto do trecho próximo de onde ocorreu o desastre até Pará de Minas, onde foi feita uma barreira de contenção, tentando conter os rejeitos, mas que ainda não deu resultado;, afirmou a especialista em recursos hídricos da entidade, Malu Ribeiro.
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