A decisão de enviar tropas da Força Nacional ao Ceará em meio a uma onda de ataques do crime organizado foi tomada pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, depois da equipe dele concluir que as forças estaduais não conseguiriam debelar a crise.
Em um primeiro momento, na noite da quinta-feira, 3, um comunicado do Ministério da Justiça e Segurança Pública informou que a Força Nacional só iria "se deslocar ao Estado em caso de deterioração da segurança". Mas às 10h56 desta sexta-feira, 4, a portaria do ministro Sérgio Moro autorizou o envio de 300 homens e 30 viaturas ao local por 30 dias.
Segundo duas fontes ouvidas pela reportagem, o que levou à mudança de percepção quanto à necessidade do reforço foi a constatação de que a situação no Estado não se acalmou como se esperava.
Em coletiva de imprensa nesta sexta-feira, o secretário Nacional de Segurança Pública negou que tenha havido um recuo na posição, mas também não explicou se houve ou não um agravamento da situação. Ele comentou, no entanto, que não se deve "desperdiçar o emprego da tropa". Disse, ainda, que não houve demora, mas uma resposta "em tempo recorde".
Moro está em contato desde ontem à noite com o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva. Os três e o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, se reuniram nesta manhã, quando foi batido o martelo pelo envio de reforço.
À reportagem, o general Heleno disse que Moro explicou na reunião a necessidade das medidas e todos concordaram. "Há uma grande preocupação mas avaliamos que, com o envio da Força Nacional para lá, a situação vai normalizar", disse Heleno.
Moro ganhou também o elogio de Bolsonaro. "Foi muito hábil, rápido e eficaz para atender ao Estado, cujo governador reeleito é uma posição radical à nossa. Nós jamais faremos oposição ao povo de qualquer Estado. E o povo do Ceará precisa nesse momento", disse o presidente.
Medidas
A portaria assinada por Moro cita "ataques a ônibus, a prédios públicos, inclusive federais, e tentativas de explosão de obras públicas", diz que as informações apontam a ação de grupos criminosos e registra que há "dificuldades das forças estaduais de atenderem sozinhas às demandas decorrentes da ação do crime organizado". Ele também disse que os fatos são graves e há a necessidade de manutenção da segurança pública e proteção da população e do patrimônio público.
O enfrentamento ao crime organizado e ao crime violento - junto com o combate à corrupção - são os pilares da gestão do ex-juiz da Lava Jato agora como ministro da Justiça.
Moro também determinou que a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal intensifiquem as ações de prevenção e repressão ao crime organizado e que o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) preste todo o apoio necessário para as ações de segurança pública.
Desde a noite desta quinta-feira, o Ministério da Justiça já está representado no gabinete de crise criado pelo governo do Ceará. Uma medida tomada pelo Depen é a abertura de 20 vagas para presos líderes das organizações criminosas estaduais no Sistema Penitenciário Federal. Uma equipe de intervenção prisional do Depen também vai ser enviada ao Ceará.