Brasil

Nova contra-almirante defende as escolhas de Bolsonaro no primeiro escalão

Luciana Mascarenhas da Costa Marroni diz que atuação das Forças Armadas 'não deve se perpetuar'

Otávio Augusto
postado em 28/11/2018 06:00
Luciana Marroni:
Ela cresceu ouvindo falar do mundo militar. O avô foi general do Exército e o irmão médico da Marinha. Quando ela chegou às Forças Armadas não imaginava que chegaria ao posto de contra-almirante. Aos 52 anos, sendo 30 dedicados à Marinha, Luciana Mascarenhas da Costa Marroni é a segunda mulher a chegar ao cargo. Numa composição de governo onde cinco militares foram alçados à Esplanada dos Ministérios, Luciana acredita que o trabalho deles será um ;acerto de rumo; que ;não deve se perpetuar;.

Em visita a quartéis da capital federal, Luciana conversou com exclusividade com o Correio no início da noite de ontem. Para ela, as indicações do futuro chefe do Palácio do Planalto estão ligadas ;qualificação; dos escolhidos. ;Não se ganha uma guerra sem bom planejamento, bons estrategistas, bons administradores e nisso os militares são bons. Na política civil está se vendo muito desvio de conduta. (O presidente eleito) está pegando pessoas que têm competência e em quem ele confia. Não acho que deva ser uma coisa a ser estendida. Não é uma coisa que deva se perpetuar. O governo Bolsonaro está tentando fazer um primeiro acerto de rumo para depois as coisas fluírem naturalmente;, ponderou.

A contra-almirante aposta que os escolhidos de Bolsonaro ;estão entrando na política com uma chancela de moral e correção;. ;Está se trazendo pessoas com patriotismo. São pessoas que vão pensar no país, não em si, não no partido;, explicou. Ela emenda. ;As pessoas veem uma coisa errada e querem que as Forças Armadas entrem para resolver. Só que não dá para fazer tudo e se fizer sem qualificação, faz mal feito. As Forças Armadas precisam se preparar para sua função constitucional que é a defesa;, acrescentou.

A militar descarta totalmente um perfil autoritário na gestão, como durante a ditadura entre 1964 e 1985. ;São momentos completamente diferentes. Hoje, essas pessoas estão sendo trazidas para exercer cargos democráticos. Vimos em governos anteriores pessoas completamente desqualificadas assumindo funções importantes e não houve questionamento. Talvez seja o que a gente esteja precisando agora. Tomara que dê certo;, desejou.

A contra-almirante não recebe bem as críticas que as Forças Armadas recebem. ;Não gosto que falem mal. Me sinto um pouco magoada no meu próprio militarismo, está falando mal de mim. É injusto. As pessoas não fazem a menor ideia do que nós fazemos e de como contribuímos para a sociedade;, afirmou.

Luciana tem expectativa para o país nos próximos quatro anos. ;Espero que melhore a economia, porque se melhorar, fica bom para todo mundo. Não adianta a gente falar em segmentos da sociedade, de minorias, se não gerar emprego, renda, ter investimento nos serviços públicos, igualdade social, melhor distribuição de riquezas e trabalhos sociais. Toda a nossa estrutura pública melhora com uma economia acertada;, comenta.

A falta de ética é um dos principais desafios. ;As pessoas, se elas não estiverem sendo vistas, cometem pequenos erros, como cortar pelo acostamento no engarrafamento. Mas falta patriotismo também no que é melhor para o país, para a coletividade. O brasileiro perdeu isso;, lamentou.

Intervenção


Carioca e moradora da Barra da Tijuca, bairro nobre da zona oeste do Rio de Janeiro, Luciana acredita que seis meses é pouco tempo para se resolver a situação da segurança pública no estado. ;É insuficiente para arrumar o caos que estava instalado. Quando a intervenção chegou, o que se viu foram órgãos de segurança completamente desestruturados. Foi dado um pontapé. Melhorou, como mostram os índices, apesar de não ser tão divulgado;, afirmou.

A maior dificuldade, segundo ela, é por fim no poder paralelo e acabar com áreas onde a polícia não entra. ;Temo que, com o fim da intervenção, isso não tenha continuidade no governo estadual e se perca. Começou-se a estruturar a segurança pública que foi destruída ao longo dos anos.Se deu as diretrizes de como fazer, mas o sucesso dependerá muito mais de um trabalho posterior à intervenção que eu não sei se vai acontecer. Eu me senti mais segura. Confesso que gostei de ver um policiamento mais ostensivo, mas sei que o problema da segurança está muito longe de ser resolvido;, conclui.


A mulher


Casada há 23 anos e mãe de dois filhos, a contra-almirante diz nunca ter sofrido com o machismo na carreira na Marinha, como engenheira especialista em telecomunicações. ;A gente vai evoluindo da mesma forma entre homens e mulheres na minha área. Ano que vem, a primeira turma de mulheres entrarão no corpo para fuzileiros navais e corpo da armada da Marinha, aí sim haverá uma adaptação. Nunca percebi uma atitude que me segregou por ser mulher. Agora, uma coisa mudou: quando eu entrei as mulheres não se tornavam oficial-general. Houve uma equalização. Hoje, que atividades iguais feitas por homens e mulheres são tratadas de forma igual. Graças a isso estou aqui hoje;, salienta.

Luciana comentou a indicação do governador eleito, Ibaneis Rocha, para o comando-geral da Polícia Militar. No próximo ano, assume a coronel Sheyla Sampaio. ;Fico feliz. Tenho certeza que ela foi escolhida por ter competência e isso inspira outras mulheres. Dá uma certa confiança de que, se você fizer sua parte e aproveitar as oportunidades, se alcança uma posição. Fico feliz por nós mulheres assumimos esses cargos. Não gostaria que isso acontecesse por sermos somente mulheres, mas isso está acontecendo por capacidade;, comemora. Nos próximos meses ela assessorará um almirante quatro estrelas enquanto aguarda a indicação para chefiar uma diretoria.

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