O governo do presidente Michel Temer encerra seu ciclo com um aumento expressivo nos índices de desmatamento da Amazônia, registrando o pior volume de devastação na região nos últimos dez anos. Dados oficiais do governo apontam uma expansão de 13,7% no desmate da região amazônica no período de agosto de 2017 a julho de 2018, quando comparado com o mesmo ciclo anual anterior. Ao todo, a remoção total da vegetação (corte raso) na Amazônia atingiu 7.900 km;, uma área equivalente a mais de cinco vezes a capital de São Paulo.
Trata-se da maior área devastada desde o ciclo de 2007/2008, quando 12.911 km; foram desmatados. Os dados são apurados pelo sistema de monitoramento da Amazônia, o Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O crescimento na taxa de desmatamento frustra os resultados de queda do período anterior, entre agosto de 2016 e julho de 2017, quando o governo comemorou um recuo de 16% nessas ocorrências, com 6.947 km; desmatados.
No ano passado, o governo comemorou a "tendência de queda" nos índices. Nos dois ciclos anteriores - agosto de 2014 a julho de 2015 (6.207 km;); e agosto de 2015 a julho de 2016 (7.893 km;) - houve aumento nas taxas de desmatamento, com altas de 24% e 27%, respectivamente.
Os Estados que apresentaram os valores mais elevados de desmatamento foram Pará (35,9% do total), Mato Grosso (22,1%), Rondônia (16,7%) e Amazonas (13,2). O governo procura relevar o resultado ruim, ao observar que o desmatamento de 2018 corresponde a uma redução de 72% em relação à área registrada em 2004, quando 28.772 km; foram desmatados, a maior perda florestal registrada no século 21.
O mapeamento se baseia em imagens de satélite para registrar e quantificar as áreas desmatadas maiores do que 6,25 hectares. Foi considerado como desmatamento a remoção completa da cobertura florestal, independentemente da futura utilização dessas áreas.
Fiscalização
No ciclo 2017/2018, o Ibama aumentou o número de autuações em 6%. As áreas embargadas na região tiveram ampliação de 56%, o volume de madeira apreendida cresceu 131% e a apreensão de equipamentos, alta de 183%, em relação ao período anterior.
Em unidades de conservação ambiental fiscalizadas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), aumentaram em 40% as autuações, 20% as áreas embargadas e 40% as apreensões de madeira e equipamentos. Como o desmatamento ilegal muitas vezes está associado a outros crimes, como lavagem de dinheiro, tráfico de armas, drogas e animais e trabalho escravo, a Polícia Federal instaurou 823 procedimentos criminais no período.
O ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, não deu entrevista sobre os resultados. Por meio de nota, Duarte declarou apenas que "o recrudescimento do crime organizado que atua no desmatamento ilegal da Amazônia, destruindo as riquezas naturais do país e causando danos para toda sociedade, está associado a outras práticas criminosas, como tráfico de armas e animais, trabalho escravo, evasão de divisas e lavagem de dinheiro".
Segundo o ministro, além de intensificação das ações, é preciso "ampliar a mobilização de todos os níveis de governo, da sociedade e do setor produtivo no combate aos ilícitos ambientais e na defesa do desenvolvimento sustentável do bioma".