Murilo Fagundes*
postado em 13/11/2018 06:00
;O conhecimento, mais que a força, determina a base para razão.; O almirante de esquadra Ilques Barbosa Júnior e a Marinha Brasileira têm se guiado por essa ideia para capitanear um dos projetos de maior destaque da armada: a Amazônia Azul. Idealizada com o objetivo de resguardar uma área que corresponde a 4,5 milhões de quilômetros quadrados, equivalente à superfície da Amazônia Verde ; isto é, a Floresta Amazônica ;, a proposta é uma tentativa de conscientizar o país sobre as riquezas naturais espalhadas pelo território marítimo e, mais do que isso, um esforço concentrado para atribuir a essa porção valor militar estratégico.Estima-se que os oceanos abriguem 80% da vida do planeta e absorvam 90% do aquecimento global contido na atmosfera. Mas, a relação entre os homens e os mares não tem se esquivado de negligências, já que o contato com o mar ainda é conflituoso e pouco sustentável. Por isso, a Marinha busca esclarecer os brasileiros e outros órgãos governamentais sobre a importância de se preservar o oceano e investir na chamada ;economia azul;, assunto tratado no Simpósio Amazônia Azul ; promovido com apoio do Correio ;, ontem, no Lago Sul.
Para o professor Rodrigo More, do Departamento de Ciências do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e candidato do Brasil a juiz no Tribunal Internacional do Direito do Mar na Organização das Nações Unidas, o conceito de economia azul é ;a nova fronteira da economia mundial;. Ele sustentou que o investimento privado em áreas naturais e a contenção das políticas de subsídios nesse campo, apoiados em pilares como o uso sustentável dos oceanos, o crescimento econômico, a segurança alimentar, a geração de empregos e a preservação do meio ambiente marinho, são meios altamente eficientes de investir nas potencialidades naturais.
;No Brasil, temos riquezas que interessam ao povo e temos empresas que demonstram capacidade em áreas altamente competitivas, como a Petrobras. A economia azul, pautada no uso sustentável dos oceanos, desponta como a nova fronteira da economia;, explica o acadêmico. ;O empresariado busca um governo que promova empregos, dê acesso ao crédito e governe com menos burocracia. O que o conceito de economia azul propõe é justamente isso. O Brasil precisa investir em ciência, tecnologia e inovação para chegar a esse ponto;, emenda.
O investimento em pesquisas é outro norte pelo qual a Marinha se guia. ;Precisamos investir em desenvolvimento tecnológico, apoiar os sistemas de observação, ter uma estrutura mais eficiente;, diz o professor de oceanografia José Henrique Muelbert, da Universidade Federal do Rio Grande (Furg). ;O Brasil faz parte do sistema global de observação dos oceanos, mas não tem institutos nacionais de pesquisa oceanográficos. A Marinha é uma parceira importantíssima, porém, podemos ampliar esse planejamento estratégico.;
Conflitos entre nações e a criminalidade marítima são ameaças ao território oceânico demarcado pelo Brasil. Por isso, outra preocupação da Marinha é resguardar a extensão territorial por meio da ocupação. ;As ações do mar sempre se demarcaram pela presença, jamais pela ocupação, características das ações em terra. Mas agora, a ocupação de áreas oceânicas ricas em recursos naturais dá ao Estado vantagens significativas estratégicas, o que tem levado a um processo de nacionalização dos espaços oceânicos;, explicou o almirante de esquadra e presidente do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha, Álvaro Monteiro.
* Estagiário sob supervisão de Odail Figueiredo