Depois da polêmica causada nas redes sociais uma mãe que mandou o filho para uma festa de Halloween na escola fantasiado de escravo, em Natal, pediu desculpas, excluiu seguidores, fechou sua conta no Instagram e apagou posts. "Queria somente pedir desculpas pelo fato! Jamais foi minha intenção ofender alguém, estou extremamente arrependida por tudo que aconteceu e me sentindo MUITO mal com os xingamentos e ameaças horríveis que estão me mandando. Desculpa a todos, do fundo do meu coração! #paz", escreveu a mulher na rede social Instagram nesta terça-feira (30/10).
Mais cedo, a Promotoria de Justiça de Defesa da Criança e do Adolescente do Ministério Público do Rio Grande do Norte instaurou um procedimento para acompanhar o caso. Em nota, o MP afirmou que o acompanhamento do caso transcorrerá em segredo de Justiça por envolver uma criança, conforme previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
O Colégio CEI, onde a criança estuda, emitiu nota. "Lamentavelmente, a escolha do traje para a participação do Halloween, feita pela família do aluno, tocou numa ferida histórica do nosso País. Amargamos as sequelas do trágico período da escravidão até os dias de hoje. O Colégio CEI não incentiva nem compactua com qualquer tipo de expressão de racismo ou preconceito, tendo os princípios da inclusão e convivência com a diversidade como norte da nossa prática pedagógica". A escola não impediu a participação do aluno na festa.
A mulher foi procurada pela reportagem, mas não respondeu às tentativas de contato telefônico.
Nas imagens divulgadas em rede social, a criança usa maquiagem para simular as escaras de cicatrizes e ferimentos no corpo. Vestido apenas com algumas túnicas brancas, simulando um calção e uma faixa na cabeça, o menino também usa imitações de correntes e grilhões, instrumentos usados na tortura e aprisionamento de escravos.
"Quando seu filho absorve o personagem! Vamos abrasileirar esse negócio! #Escravo", publicou a mãe em sua conta no Instagram. Pouco depois da postagem, usuários comentaram a foto parabenizando a mãe pela criatividade e realismo da fantasia. "Minha nossa senhora!! Causou kkkkkkkk", comentou uma usuária. "Meninaaaaa perfeito!", comentou outra.
Quando as imagens começaram a circular nas redes sociais, centenas de pessoas comentaram a postagem chamando-a de "racista e preconceituosa". O cantor Marcelo D2 republicou as imagens e entrou na discussão online. "Quando você pensa que já viu de tudo na vida", escreveu o cantor.
Depois que a postagem do cantor ultrapassou os 2 mil retweets no Instagram, a mãe se manifestou pela mesma rede social. "Não leiam livros de história do Brasil. Eles dizem que existiu escravidão de negros no País, mas isso é mentira. Não discuta com essa afirmação, pois você estará sendo racista, A PIOR PESSOA, um lixo. Só não entendi ainda se o problema foi o a fantasia ou o "17" na foto", escreveu.
O professor de História da África da Pontíficia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Amailton Magno de Azevedo, avaliou como desnecessária a postura da mãe em fantasiar o filho de escravo. Segundo Azevedo, trata-se de uma "abordagem ultrapassada, falida e deslocada e que faz reavivar uma mentalidade escravocrata". "O passado histórico ainda persiste no imaginário brasileiro. Temos que combater este tipo de postura, mirar na pluralidade e ter outra narrativa. O negro tem que ser inserido na sociedade de maneira mais digna."